O artista potiguar Quemuel Costa, de 25 anos, de Parnamirim, foi um dos dez jovens brasileiros escolhidos pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) para integrar a comitiva que representará o Brasil no Festival Off Avignon, na França. Reconhecido como um dos principais eventos internacionais voltados às artes cênicas, o festival é parte da Temporada Cultural Brasil-França 2025, dentro do programa Funarte Brasil Conexões Internacionais.

Formado em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e atualmente mestrando em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Quemuel se destaca por uma atuação artística que atravessa o teatro, a performance, o cinema e, mais recentemente, a dança. Sua pesquisa tem como foco a construção de narrativas autobiográficas que tratam das subjetividades e memórias negras, com um olhar sensível e potente para o coletivo.
Com um percurso já marcado por prêmios, participações em mostras nacionais e vivências fora do país, Quemuel enxerga a trajetória até aqui como um caminho de persistência e resistência. “A primeira felicidade é ter a oportunidade de ir para um dos principais festivais de teatro do mundo e conhecer, através do trabalho, a França, país em que nunca fui. Mas acredito que o maior orgulho é ter o reconhecimento da minha trajetória e da minha pesquisa”, afirma.
No festival, o artista participa do WYPPAM (Encontros Mundiais de Jovens Profissionais das Artes Performativas), junto a representantes de países como Alemanha, Uzbequistão, Escócia, Turquia e Canadá. A programação inclui imersões pedagógicas, apresentações, intercâmbios e encontros com programadores internacionais.
A seleção de Quemuel está diretamente conectada ao seu atual projeto artístico: o solo Azul Miró, obra em desenvolvimento contemplada por edital da Lei Paulo Gustavo. Inspirado na poética de Miró da Muribeca, poeta pernambucano cuja produção afetou profundamente o artista potiguar, o espetáculo é mais um desdobramento da pesquisa Autobiografias Negras, que ele desenvolve desde 2019.


“Essa obra será o quarto solo que desenvolvo a partir da pesquisa que estou chamando de Autobiografias Negras – a elaboração cênica de memórias e subjetividades de pessoas negras, principalmente as minhas, mas também de amigos e familiares, priorizando aquilo que pode ressoar na coletividade. Como diz Leda Maria Martins, eu busco um ‘eu-nós’. Então, estar levando esse processo criativo tem um significado muito importante, pois é fruto de uma continuidade na arte”, explica.

Apesar dos avanços, Quemuel destaca que o trabalho continua sendo construído com poucos recursos e de forma autônoma, uma prática já recorrente em sua trajetória. A presença em Avignon, portanto, representa não apenas um passo importante na carreira, mas também um símbolo de perseverança.