As ações de grandes empresas americanas do setor de tecnologia tiveram uma queda expressiva na última segunda-feira (27), impulsionadas por preocupações sobre a competitividade de suas soluções de inteligência artificial (IA) diante do avanço da startup chinesa DeepSeek. A fabricante de chips Nvidia, a Microsoft e a Meta registraram quedas acentuadas logo no início do pregão, arrastando também o índice Nasdaq, que concentra empresas de alta tecnologia.
O tombo está diretamente relacionado ao lançamento, na semana passada, do mais recente modelo de IA da DeepSeek. A nova tecnologia chinesa teria desempenho equivalente aos modelos de rivais americanas líderes, como o ChatGPT, da OpenAI, mas com custos significativamente menores e menor dependência de chips da Nvidia.
Esse cenário levantou dúvidas sobre a capacidade das empresas dos EUA de manterem sua liderança no setor, mesmo após bilhões de dólares investidos em pesquisa e desenvolvimento. A alta da DeepSeek e sua comparação com o ChatGPT geraram uma onda de memes nas redes sociais, onde usuários criaram conteúdos humorísticos sobre o ChatGPT “perdendo o emprego” para a nova IA chinesa. Imagens e montagens mostram o ChatGPT sendo “demitido” ou substituído com referências à China.
Especialista analisa o impacto da DeepSeek
Marcelo Fernandes, professor do Instituto Metrópole Digital da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e especialista em inteligência artificial, comentou o caso. Sobre a principal diferença entre a DeepSeek e o ChatGPT, ele explicou que, tecnicamente, ambas são baseadas em redes neurais profundas e transformadoras. No entanto, a DeepSeek incorpora metodologias mais recentes, como a compressão de modelos, que permitem desempenho equivalente com menos recursos. A grande diferença é o baixo custo utilizado pelos chineses. “Isso é natural na evolução da tecnologia. Novas soluções surgirão nos próximos meses, especialmente com a abertura de códigos e pesquisas”, afirmou.
Quanto à competitividade da DeepSeek, Marcelo destacou que as tecnologias de IA não são segredos, mas dependem de uma boa infraestrutura “Os EUA lideraram inicialmente por terem empresas como a Nvidia, que fornecem hardware essencial. Porém, a China e outros países estão alcançando esse patamar, o que é positivo para a concorrência e a inovação”, disse. Ele também ressaltou que a evolução da IA ocorre em meses, não em anos, o que torna o cenário dinâmico e imprevisível.
Sobre a base de dados da DeepSeek, o especialista foi categórico: não é possível afirmar que ela seja mais vasta ou precisa que a do ChatGPT. “Treinamento é apenas uma parte do processo. Hoje, todos têm acesso a grandes volumes de dados, mas a eficiência de uma IA depende de múltiplos fatores, como metodologias e infraestrutura”, explicou. O professor ainda alertou para a necessidade de o Brasil investir no setor. “Países com modelos de IA eficientes terão vantagens estratégicas. Este caso mostra que a disputa pela liderança na IA será intensa nos próximos meses”, concluiu.
