Um pó com coloração azul, fabricado por uma rota inédita de processamento, com propriedades que o fazem capaz de se comportar como sensor ótico, acaba de ser criado por inventores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O pó são nanopartículas de tungstato de cobalto, cuja obtenção aconteceu via método de síntese sol-gel proteico. Heytor Vitor Souza Bezerra de Azevedo, autor da tese que resultou na invenção, salienta que essa nova rota verde de fabricação é inédita em termos científicos e servirá de base para futuras pesquisas de óxidos ternários para aplicações em sensores ópticos, bem como para outras áreas da ciência.
Além disso, há uma necessidade cada vez maior de melhoria e enquadramento nos princípios da química verde, tais como: prevenção de desperdício, máxima incorporação do material utilizado na síntese, baixo consumo energético, matéria-prima renovável e redução de derivados. Essa necessidade exige a descoberta recorrente de novas rotas. O cientista identifica que as nanopartículas apresentam propriedades que permitem sua aplicação em diversos nichos mercadológicos, como indústrias de desenvolvimento de baterias, armazenamento e estocagem de energia renovável, aplicações militares e aeroespaciais e produtos biomédicos, entre outras.
“Esse nosso material especificamente possui propriedades intrínsecas que o torna capaz de se comportar como sensor óptico e, desta forma, ele é capaz tecnicamente de obter respostas em bandas de fluorescência e de plamons. O sensor ótico é um equipamento empregado com frequência em diversas áreas da indústria, sendo muito útil em sistemas de automação, que é a área à qual me dedico com maior entusiasmo. Esse produto tem como função detectar divergências de iluminação, sendo constituído de materiais que têm sensibilidade às partículas luminosas”, observa o hoje professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) na cidade de Mossoró.
A patente depositada a partir da pesquisa recebeu o nome Método sol-gel proteico para preparar nanopartículas de volframita e contou com a colaboração de Evanimek Bernardo Sabino da Silva, Maitê Medeiros de Santana e Silva, Rafael Alexandre Raimundo, Rafael da Silva Fernandes, Marco Antonio Morales Torres, Daniel Araújo de Macedo, Danielle Guedes de Lima Cavalcante e Uilame Umbelino Gomes, em uma parceria da UFRN com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Na UFRN, o estudo teve participação ativa do Grupo de Pesquisa Materiais e Tecnologia dos Pós, coordenado pelo professor Uilame Umbelino Gomes, equipe cujo início de atuação remete à década de 1980. Pesquisador com mais concessões de patente dentro da UFRN, Umbelino fala que a parceria com os paraibanos acrescenta mais uma vertente promissora.
“O Grupo tem a sua essência em estudos com metais especiais, metais refratários, como o tungstênio, cujo maior produtor nacional é o Rio Grande do Norte, o nióbio e o tântalo, minérios que também podem ser encontrados na nossa região. Ultimamente, em interação com o pessoal da Paraíba, estamos desenvolvendo a área da ecossíntese verde de materiais. Temos conseguido um sucesso muito grande na obtenção de materiais com partículas nanométricas e o acréscimo de propriedades especiais, as quais permitem sua utilização como sensores e baterias, movimento que tem apresentado um resultado impressionante, melhorando a característica e propriedade de alguns materiais finais”, esclarece o docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da UFRN e do Departamento de Física.
A caminhada para a concessão de uma patente exige obediência a critérios temporais. Após o depósito, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) “guarda” o documento por 18 meses em sigilo. Em seguida, o estudo é publicado e fica o mesmo período aberto a contestações. Após os três anos, o Instituto parte para a análise em si. O diretor da Agência de Inovação da UFRN (Agir), Daniel de Lima Pontes, pontua que, quando iniciada a fase de avaliação da patente, é muito comum que o examinador do INPI faça exigências questionando possíveis desacordos entre o pedido de patente e os critérios de patenteabilidade exigidos por lei.
A UFRN garante aos seus cientistas suporte no processo de pedido, auxiliando em questões desde a escrita propriamente até as burocráticas, como a responsabilidade pelo pagamento de taxas. Daniel Pontes fala que é comum que as pessoas imaginem que as atividades relacionadas a um pedido de patente terminem com o seu depósito no INPI. “Na verdade, após esse momento, a Agir segue com uma série de atividades por toda a existência da patente que, para o caso de uma invenção, pode chegar a 20 anos ou um pouco mais, caso esta seja concedida. Entre as várias atividades desempenhadas pela equipe nesse período, temos os pagamentos das taxas de anuidade, pedido de exame e concessão do pedido, além do acompanhamento da Revista de Propriedade Industrial, que ocorre toda terça-feira, na qual verificamos se houve alteração do status do pedido ou alguma exigência do INPI”, coloca o gestor.
Os critérios a que o depósito precisa obedecer são: novidade, atividade inventiva, aplicação industrial e suficiência descritiva. “É importante salientar que nós da Agência contamos com o suporte dos inventores para nos encaminharem subsídios técnicos para a preparação de uma resposta fundamentada, de forma a fortalecer o pedido e esclarecer eventuais dúvidas do examinador. Em alguns casos, a nossa unidade também solicita alterações pontuais no texto da patente, dentro do previsto em lei, de forma a ajustar o pedido aos critérios de patenteabilidade”, acrescenta o Engenheiro de Produção da Agir Lawrence Cezar Medeiros Araújo de Moura, um dos responsáveis diretos por esse apoio que a Agência de Inovação oferece.