Com 15,3% das exportações destinadas ao mercado americano no primeiro semestre de 2025, o Rio Grande do Norte será o quinto estado mais impactado pela nova taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto. A medida, anunciada pelo governo Donald Trump, ameaça comprometer setores estratégicos da economia potiguar, como petróleo e pesca.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o RN exportou US$ 67,1 milhões aos EUA entre janeiro e junho, o que coloca o estado na 16ª posição nacional em volume exportado, mas entre os cinco mais dependentes do mercado americano proporcionalmente.
Exportações ameaçadas
De acordo com o Observatório Mais RN, os principais produtos potiguares enviados aos EUA foram derivados de petróleo (US$ 24,3 milhões), peixes frescos ou refrigerados (US$ 11,5 milhões) e produtos de origem animal (US$ 10,3 milhões). Ainda aparecem na lista pedras para construção e produtos de confeitaria sem cacau.
O economista Helder Cavalcanti avalia que a medida pode interromper o ciclo positivo da economia potiguar:
“A taxação desequilibra esse momento que a gente observa recentemente. Os itens exportados estão diretamente ligados à economia local”, pontua.
Impacto no setor de petróleo e pesca
A Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP) projeta perdas superiores a US$ 20 milhões por ano (cerca de R$ 111 milhões) nas exportações de petróleo. O gerente-executivo da entidade, Lucas Mota, alerta:
“A tarifa de 50% encarece significativamente o óleo potiguar em relação a concorrentes globais, reduzindo sua atratividade comercial”.
Apesar disso, Mota não vê o fim das exportações, mas admite que será necessário redirecionar os embarques para mercados como Índia, China e sudeste asiático.
“Há espaço para reposicionamento, ainda que com possíveis impactos sobre margens e prazos”, afirma.
Na pesca, o Sindipesca estima perdas de até US$ 50 milhões por ano (R$ 280 milhões) apenas com as exportações de atum. O presidente da entidade, Arimar Filho, informou que o envio de peixe congelado aos EUA já enfrenta paralisações por temor da nova taxa.
Mobilização política e empresarial
Diante do cenário, o governo estadual e o setor produtivo se articulam. O secretário de Desenvolvimento Econômico do RN, Alan Silveira, confirmou a elaboração de uma carta-proposta com apoio de entidades como a Fiern, buscando inserir o estado nas negociações lideradas pelo Governo Federal.
“As tratativas em plano macro são lideradas por Brasília, mas o governo estadual vem fazendo sua parte junto às entidades e exportadores”, disse Silveira.
O presidente da Fiern, Roberto Serquiz, destacou a gravidade da situação:
“As exportações para os EUA representam quase 10% do PIB industrial do RN. Há uma apreensão grande, inclusive em relação a empregos”.
Ele afirmou que sindicatos e empresários mantêm contato com parceiros americanos e que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já apresentou ao governo federal um levantamento dos impactos regionais.
Busca por alternativas e novos mercados
Helder Cavalcanti reforça a importância de diversificar destinos comerciais para mitigar os efeitos da medida:
“Temos o BRICS como alternativa. O empresariado deve amadurecer diante da emergência de novos players internacionais”.
Estados mais expostos ao mercado americano em 2025 (% das exportações para os EUA):
Ceará – 51,9%
Espírito Santo – 33,9%
Sergipe – 31,4%
São Paulo – 19,5%
Rio Grande do Norte – 15,3%
Com informações da Tribuna do Norte.