A data de 8 de março é marcada como Dia Internacional da Mulher, muitas vezes para relembrar as lutas por igualdade de gêneros. Mas apesar ser associada apenas à força feminina e a protestos contra a desigualdade entre homens e mulheres, o dia tem uma origem bem diferente do que é pensado.
O dia é resultado de diversas manifestações de operárias por melhores condições de trabalho, redução de jornada e até pela proibição do trabalho infantil. A primeira manifestação foi justamente em oito de março, na Rússia, em 1917. Anna Christina Bentes, coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu na UNICAMP, explica que manifestações em todo o mundo causaram o marco da data na sociedade.
“Quem propôs o dia, sem estabelecer uma data, foi Clara Zetkin antes das primeiras manifestações, em 1910. A proposta dela estava neste contexto de luta dos trabalhadores por mais direitos”, explica a coordenadora.
Além destes dois marcos, há também as manifestações, protestos e greves de mulheres desde a segunda metade do século XIX até as primeiras décadas do século XX. “As condições de trabalho na Europa e Estados Unidos eram terríveis, além dos proprietários de fábricas tratarem as reivindicações como desrespeitos”, pontua.
Segundo a coordenadora da UNICAMP, a data simboliza principalmente a luta pela igualdade de gênero no trabalho. “Ainda há muitos trabalhos ligados à masculinidade. A polícia é constantemente entendida como masculino, enquanto a educação e assistência social é assimilado como feminino. O mesmo ocorre com médicos e enfermeiras. Por isso é importante seguir com este tema de luta por direitos iguais no trabalho”, indica.
“O trabalho da mulher sempre foi e continua sendo considerado, muitas vezes, como um mero complemento ao trabalho do homem, por isso ele nasce em um contexto de luta trabalhista. Hoje, a data é descaracterizada quando se associa o dia a uma simples homenagem, onde ela merece flores e presentes”, afirma.
Data hoje tem novos significados para a mulher
Muito além do campo do trabalho, Anna Christina avalia que o 8 de março atualmente faz referência à luta da mulher pela participação social igualitária. “As mulheres sempre lutaram para serem reconhecidas nos espaços do mercado de trabalho e na política, mas ainda que invisibilizadas, nós mulheres sempre participamos da sociedade. Certamente, o reconhecimento e a valorização dessa participação segue sendo um ponto permanente de luta”, explica.
A data também é usada para relembrar a importância de enfrentar a violência contra a mulher, o feminicídio e também entender como o Estado prioriza as mulheres. “É preciso refletir que, muitas vezes, questões relacionadas a elas são consideradas ‘menos importante’. Enfrentar isso é horizonte de luta dos movimentos”, avalia.
Por que não existe um Dia do Homem?
A data que celebra a existência masculina até existe, sendo a internacional em 19 de novembro. Apesar disso, o dia não é registrado pela ONU ou pela UNESCO. No Brasil, a data é em 15 de julho, mas não é um símbolo social e sim, uma data para promover a saúde masculina.
Mas a falta de uma data que simboliza a importância do homem na sociedade, para Anna Christina, é justificada pela história de luta da mulher e de outras minorias, como as pessoas LGBTQIA+ e negras.
“As datas são construídas por meio da história de populações violentadas, assassinadas, escravizadas e que tiveram direitos limitados, como os direitos ao voto, estudo, ter propriedade e até mesmo se relacionar com quem desejar. A história do Dia Internacional das Mulheres mostra isso”, explica.
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