Jejum intermitente, dieta da sopa, dieta dos sucos, dieta da lua, low carb e zero carb, dieta do ovo. Esses regimes da moda, que viralizam na internet, nem sempre estão embasadas em conhecimento científico, segundo a nutróloga Dinah Ribeiro De Paula.
“As dietas da moda nem sempre estão embasadas em conhecimento científico ou mesmo abordando a necessidade especial de cada paciente. Pois cada dieta deve ser personalizada com as necessidades calóricas e nutricionais de cada paciente”, declarou a especialista ao Band.com.br.
Os regimes levam à perda de peso inicial, rápida, geralmente com perda muscular magra e de líquidos em vez de gordura corporal. Quando os grupos de alimentos são demonizados e os sinais internos sobre a fome e a saciedade são ignorados, isso pode levar a ciclos de perda de peso seguidos de recuperação de peso.
Este ciclo pode afetar a relação com a comida, levando a impactos na saúde mental, em vez de desenvolver as competências e a confiança para gerir a dieta e o peso de uma forma saudável.
No caso da jornalista e social media Jady Libarino, de 23 anos, tudo começou com um problema familiar entre 2019 e 2020, quando desenvolveu dependência emocional e um ganho de peso de 10 kg. Na época, o fato não a incomodava, porém, mudou quando foi tentar colocar uma roupa e teve dificuldade em fechar.
Academia e alimentação saudável, mas sem acompanhamento médico, a fez perder 8 kg. Segundo ela, Jady estava se amando porque “era a sua fase mais magra” e estava radiante. Mas voltou a ganhar peso após uma cirurgia e um quadro de depressão.
“Nesse período que engordei 10 kg, eu saía mesmo mais gordinha. Eu saía, não conseguia me olhar no espelho e me senti mais gordinha, sentia sempre que eu ainda estava naquele corpo de 70 porque é o corpo que eu idealizo como o corpo ideal”, declarou a social mídia. Foi quando passou a ter uma distorção de imagem do próprio corpo e começou o acompanhamento com nutricionista.
“Tinha compulsão alimentar, não conseguia seguir a dieta da nutricionista, me maltratava fazendo desafio de jejum intermitente, aquele que você fica sem comer, essa dieta maluca. Então foi assim um ganho de massa bem considerável, mas por pouco tempo”, declarou. “Não não consigo falar especificamente sobre uma porque foram várias durante esse ano inteiro”, acrescentou.
Jady Libarino contou que pagou R$ 300 reais em um remédio escondido de todos, que prometia emagrecimento de 10 kg em um mês.
O que dizem os especialistas
O Band.com.br conversou com a nutróloga Dinah Ribeiro De Paula e com o nutricionista Bruno Lopes, para entender os riscos para a saúde das dietas. Entenda:
Emagrecer de forma rápida é perigoso?
Dinah Ribeiro De Paula: Essas dietas que se popularizam tem um efeito curto, imediato e podem gerar perda de peso, sim, mas principalmente as custas de massa muscular. Gordura mesmo nem sempre o paciente perde, então inicialmente ele perde muita água, ele meio que desidrata e perde também massa muscular. Então toda dieta deve ser personalizada
Quando tem essa perda rápida de peso por meio de restrições dessas dietas da moda, o que, de fato, a pessoa perde já que a recuperação do peso quando para de seguir essa dieta, geralmente, ocorre de forma rápida?
Dinah Ribeiro De Paula: Então, o que se mais se vê é perda de massa muscular. O organismo vai precisar de energia, mas como ele está em um ambiente muito restritivo vai cair também taxa metabólica, vai acontecer de perder muita massa muscular. E o paciente sobe na balança, ele acha que está perdendo gordura também, nem sempre isso acontece.
A outra questão são as falhas que podem acontecer na ingestão de nutrientes importantes para nossa imunidade, né? Para nossa defesa orgânica. Então esses pacientes eles podem cursar também com baixa de imunidade. Isso pode ser um risco para a saúde
Com a restrição de alimentação, o organismo pode ficar sujeito a falta de vitaminas e desencadear algum outro problema de saúde?
Dinah Ribeiro De Paula: Sim, existe uma redução, né? Da ingestão de nutrientes importantes como vitaminas, minerais e aminoácidos. Então o paciente pode, ao longo do tempo, se essa dieta for por mais tempo que em um mês, ter grandes carências nutricionais, que podem dar quadros como além de ver que perdeu massa muscular, pode ter queda do cabelo, enfraquecimento das unhas, uma redução da elasticidade da pele com perda de colágeno, além de complicações mais importantes como é uma defesa imunitária reduzida por nutricional, por uma dieta muito restritiva a médio longo prazo.
Como saber se a dieta da moda é prejudicial?
Dinah Ribeiro De Paula: Toda dieta que circula sem embasamento científico, ela pode ser prejudicial à sua saúde. Então, o ideal é que as dietas sejam personalizadas conforme a sua necessidade calórica, se você faz atividade física, esse tipo de treino que é.
Depende muito da sua idade, condição física. Então, mulheres tem necessidades diferentes de homens e a faixa etária também influencia nessa necessidade.
Tem épocas da vida que você precisa de um aporte maior de cálcio. Então, tudo isso tem que ser visto de maneira bastante individualizada. As dietas que correm soltas a pessoa não consegue aderir por longo prazo e se consegue pode ter prejuízo para a própria saúde
Qual é a melhor forma de emagrecer sem colocar em risco a saúde?
Dinah Ribeiro De Paula: A melhor forma de emagrecer com saúde é você ser conduzido por um profissional nutrólogo, para ele te orientar qual caminho seguir.
Tudo tem que ser visto com muito carinho e também não tirar o olho dos nutrientes, não é só uma caloria por si só, mas também todo o aporte nutricional de vitaminas, minerais, aminoácidos. Para cada faixa etária tem que ser visto de maneira muito personalizada.
Relação com o alimento
Já o nutricionista Bruno Lopes lembra que existem inúmeras dietas da moda, como a dieta detox, dieta cetogênica, jejum intermitente, dieta paleolítica ou a restrição de períodos sem comer, a exemplo do jejum intermitente.
“Essas dietas atingem um grupo diferente de pessoas, com doenças diferentes, comorbidades, estilos de vida diferente, culturas diferentes e enfim um perfil socioeconômico diferente também”, disse o nutricionista.
“Quando uma pessoa segue uma dieta da moda ou diversas dietas da moda de forma consecutiva, para emagrecer, ela pode ter uma má relação com a comida. Isso por quê? E essas dietas da moda tem uma restrição de macronutriente. (…) Isso pode trazer muito estresse e uma sensação de culpa porque enquanto mais uma pessoa se restringe de comer o que ela tem vontade. Quando volta a comer o que gostaria acaba consumindo muito mais”, acrescentou Bruno Lopes.
O nutricionista alerta que seguir dietas da moda ao longo prazo, para emagrecer, com essa permanência de uma má relação com a comida, “isso pode gerar transtornos alimentares, como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de alimentar”.
Bruno Lopes pontua que é preciso saber diferenciar o emagrecimento da perda de peso. Emagrecer é quando perde gordura corporal de forma isolada. Já a perda de peso é a perda de quilos, que pode resultar também na perda de água, massa muscular ou gordura corporal.
“Quando uma pessoa pratica uma dieta da moda, uma dieta restritiva, ela acaba restringindo de forma severa a quantidade de calorias ingeridas. E aí ela perde peso, né? Ela pode perder gordura corporal, mas perde de forma muito mais significativa água e massa muscular. Então, perder peso de uma forma muito rápida, pode ser prejudicial pela promoção exacerbada da perda de massa magra”, declarou o nutricionista.
Bruno Lopes acrescenta que devido à restrição alimentar dessas dietas, pode causar um “desequilíbrio das funções internas do corpo”.
Band