O Índice de Confiança das Energias Renováveis (ICER) do Rio Grande do Norte – estado que lidera a produção nacional de energia eólica e que é o 5º maior do Nordeste em geração distribuída, na energia solar – alcançou o patamar de 76,30 em setembro, em um movimento de retração puxado por gargalos que, segundo a atividade, pairam sobre licenciamentos, legislação e, também, sobre o mercado de trabalho.
O recuo, de 0,90%, em comparação ao resultado anterior, de junho (76,90), foi apresentado à COERE, Comissão Temática de Energias Renováveis da Federação das Indústrias do Estado (FIERN), em reunião na Casa da Indústria. Os dados são medidos pelo Observatório da Indústria MAIS RN, núcleo de planejamento estratégico contínuo da Federação.
Durante a sessão, o presidente da FIERN, Amaro Sales de Araújo, se despediu da presidência da Comissão, que ocupava desde março de 2022.
O ato marca um rito de passagem já esperado na entidade, onde a função passa a ser exercida pelo presidente eleito, Roberto Serquiz, atualmente diretor primeiro Tesoureiro da Federação. No dia 26 de outubro, ele assume a presidência da FIERN.
Impulso
Na reunião desta segunda, Sales ressaltou que “a Comissão foi criada lá atrás com o intuito de apoiar uma das matrizes mais importantes do Rio Grande do Norte, que é a energia renovável”.
“A gente não pode perder essa oportunidade. A gente quer o Rio Grande do Norte diferente”, frisou ele, ao passar o comando da COERE ao sucessor.
Serquiz, por sua vez, destacou a importância do ambiente de debates criado no grupo, com a presença de empresas e governo, em prol do avanço da atividade e da formulação do melhor nessa área para o Rio Grande do Norte”.
A Coere reúne instituições locais e nacionais, distribuídas em grupos de trabalhos com membros de diversos segmentos relacionados ao setor.
Na pauta da Comissão estão temas como educação, infraestrutura e logística, questões ambientais, financiamento, mercado, inovação, tecnologia, aspectos regulatórios e políticas públicas, inseridas na chamada “Agenda Mínima” – cujo objetivo é transformar discussões nessas áreas em ações e projetos efetivos para o desenvolvimento do mercado potiguar.
Confiança
O Índice de Confiança das Energias Renováveis (ICER), termômetro da confiança do setor no estado, é uma sondagem qualitativa que mede a percepção de atores considerados estratégicos nesse fórum, incluindo empresas, governos, associações e agentes financeiros.
A construção do indicador parte de uma pergunta simples: “Como avalia os últimos três meses para o setor das energias renováveis (eólica e solar, concentrada e distribuída) no Rio Grande do Norte?, considerando que, de 0 a 10, qualquer valor abaixo de 5 representa insegurança”, explica Pedro Albuquerque, gerente do Mais RN, responsável por apresentar os dados durante a reunião.
Um movimento contínuo de piora na confiança da atividade é identificado no levantamento desde dezembro do ano passado. Esta foi a 6ª sondagem realizada junto ao setor. A avaliação é feita com periodicidade trimestral.
“Apesar da queda, os valores representam um cenário otimista, visto que os valores se apresentam acima de 50. Mas o cenário dá sinais de perda de confiança”, observa Albuquerque. “A redução (verificada no índice) é pequena, mas chama a atenção porque o otimismo do restante da indústria cresceu”, acrescenta.
Esta foi a primeira vez, na série histórica, em que a trajetória das atividades se inverteu. “Antes era a indústria insegura e as energias renováveis crescendo. Agora, enquanto a indústria cresceu 0,75% em confiança, o ICER recuou 0,90%”.
Pressão
Pelo menos três fatores são apontados pelo setor como possíveis pressões que puxam o índice para baixo. A lista inclui a falta de pessoal qualificado para a atividade no mercado; a demora no processo de emissão de licenças ambientais, além de consequências de legislações nacionais que passaram a onerar a geração solar distribuídas – frente do setor que engloba sistemas de geração de energia solar para residências, estabelecimentos comerciais e industriais de micro, pequeno e médio portes.
Na outra ponta, são apontados como avanços no período movimentações no mercado como parcerias recentes firmadas entre governo do estado e empresas voltadas à energia eólica offshore (no mar); a construção de novos projetos onshore (em terra) e o lançamento do estudo “Transmissão para Eólicas Offshore – Avaliação de Estratégias locacionais para infraestrutura do RN”, desenvolvido pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e também detalhado durante a reunião da COERE
“O que observamos foi que a confiança do industrial potiguar vem caindo desde setembro de 2022 (medição trimestral). O ICER, de certa forma, acompanha a queda, assim, verificamos que este é um fenômeno mais geral”, frisa o gerente do Mais RN. “A queda do ICER, porém, era em menor intensidade quando comparado ao ICEI (Índice de Confiança da Indústria) que representava, a nosso ver, maior resiliência do setor e adaptabilidade às condições de nosso estado. Porém, esta última medição nos revelou algo interessante, a queda percentual foi maior do ICER que o ICEI. Essa foi a primeira vez que pegamos tal fenômeno”.
Na visão do analista, múltiplas ações do governo, parcerias, projetos em andamento e lançamento de plataformas ajudaram a reduzir a intensidade da queda, sem, entretanto, conseguir blindar o ambiente de negócios. “Além de lidar com tais especificidades, (os agentes do setor) lidam também com incertezas externas: taxa de juros, incertezas políticas nacionais e internacionais”, diz ainda Albuquerque.
Durante a reunião da COERE também foram discutidas questões como o apagão registrado no país em agosto e apresentados estudos e ações de educação profissional do SENAI do Rio Grande do Norte que ajudam a impulsionar o setor e a potencializar educação e empregos na indústria das energias renováveis.