Prevenção é o melhor caminho para se evitarem queimaduras. Por isso, a campanha Junho Laranja, promovida pela Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), busca conscientizar a população sobre esse grande problema de saúde pública. Com o slogan “Não se choque, eletricidade queima”, a campanha deste ano foca nos acidentes com eletricidade, discutindo políticas públicas de prevenção e incentivando cuidados necessários por parte de toda a sociedade.
“Cerca de 50% dos acidentes fatais envolvem eletricidade. Entre as principais causas estão as más condições da rede elétrica dentro das residências, os populares gatos para furtar eletricidade, o mau estado de eletrodomésticos e, ainda, os descuidos de vigilância em relação às crianças, como tampar as tomadas”, destacou o cirurgião plástico do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) e membro do Comitê de Prevenção da SBQ, Marco Almeida.
Acidentes elétricos muitas vezes provocam a morte imediata, além de sequelas graves, como amputações. Segundo dados do Ministério da Saúde, no período de 2015 a 2020 ocorreram no Brasil 19.772 óbitos por queimaduras, entre os quais a eletricidade foi responsável em 9.117 casos, ou seja, 46,1% do total.
De acordo com levantamento do CTQ, entre janeiro e maio deste ano, 20 pessoas deram entrada na unidade vítimas de queimaduras elétricas, quantitativo equivalente ao mesmo período de 2022. Quanto às queimaduras térmicas (causadas pelo calor ou frio), entre janeiro e maio de 2023, houve 223 casos atendidos no CTQ. No mesmo período de 2022, foram registrados 161 casos. Já em relação às queimaduras químicas (provocada pela ação de agentes corrosivos, como ácidos), no período observado foram 22 casos em 2023 e 34 ocorrências em 2022. Assim, o total de casos de queimaduras de janeiro a maio deste ano foi 265 e no mesmo período de 2022 correspondeu a 215 casos, revelando um aumento de 23%.
“Esse crescimento de casos de queimaduras é preocupante e serve de alerta para que as pessoas fiquem mais atentas aos cuidados de prevenção. Desde a pandemia da Covid-19, o álcool líquido 70% foi liberado para comercialização pela Anvisa e seu uso de forma incorreta ocasionou um aumento considerável dos acidentes com essa substância. Outro agravante que tem acontecido bastante são os acidentes com etanol combustível, usado pelas pessoas para cozinhar, diante do aumento do preço do gás de cozinha. No CTQ, percebemos nitidamente uma relação entre o encarecimento do gás de cozinha e o crescimento dos acidentes com o álcool combustível, acidentes estes muitas vezes fatais. Outra questão importante consiste nos cuidados na cozinha, que concentra 70% dos acidentes com queimaduras ocorridos em casa. Nesse contexto, a vigilância das crianças merece atenção redobrada, mantendo-as afastadas desse ambiente”, informou Marco Almeida.
Festejos juninos
A chegada do período das festas juninas abre espaço para os fogos de artifício e fogueiras. O CTQ costuma receber uma média de 20 a 30 vítimas de acidentes graves relacionados a essas tradições a cada período junino.
“Os fogos de artifício não devem ser brincadeiras para criança. Mesmo os chumbinhos podem levar a consequências graves, como lesões na face ou mesmo cegueira, se atingirem os olhos. O uso de fogos de artifício pode levar a acidentes graves, como perda de um dedo, lacerações graves e amputações”, ressaltou Marco Almeida.
Outro alerta importante diz respeito às fogueiras. Deve-se evitar brincadeiras próximas a elas (até mesmo devido a problemas consequentes da inalação da fumaça) e não utilizar produtos inflamáveis, como álcool 70%, perto do fogo ou de crianças.