Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas 1,6% da população brasileira realizou doação de sangue em 2023. Apesar de o número estar na faixa recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), especialistas alertam que a taxa continua longe do ideal das necessidades dos serviços de saúde. Com a chegada do Junho Vermelho, campanha nacional promovida pelo Ministério da Saúde para incentivar a prática, doadores regulares compartilham suas experiências para desmistificar o processo.
Para Augusto César, doador frequente, a vontade de exercer a atitude solidária surgiu ainda na adolescência. “Achava que doar sangue era só ajudar o outro. Não tinha medo, tinha ansiedade para completar 18 anos e poder doar”, relembra. Mesmo sem referências na família, foi nas aulas de Ciências e Biologia que ele entendeu a importância da prática. Desde então, o hábito transformou sua rotina. “Passei a fazer exercícios, correr quatro vezes por semana, me alimentar melhor e cuidar do sono, tudo pra estar bem na hora da doação.”
O rapaz encara doar sangue como mais do que um ato de solidariedade, é um compromisso com a vida. “Parece brincadeira, mas é uma sensação de que [ao doar] fui o braço direito de um médico ou a medicação para salvar alguém”, finaliza César.
A jornalista Carla Cruz também é doadora e enxerga a prática com muita naturalidade. Aos 23 anos, ela realizou sua primeira doação e desde então, a ação faz parte da sua vida. “Eu trabalhava com saúde na época e eu tive interesse em contribuir com a causa. Hoje em dia é um hábito, independente de conhecer alguém que precise ou não. Nunca realizei doação destinada, que é a porta de entrada para muitos, mas não precisa ser”, relata.
Mitos afastam doadores
A coordenadora de Enfermagem da Estácio, Karoline Dias, reforça a importância do gesto e destaca a urgência de combater os diversos mitos que ainda cercam o tema e afastam possíveis doadores. Entre os mitos mais comuns, está a ideia de que doar sangue engorda ou emagrece. No entanto, a especialista da Estácio esclarece que “durante a doação de sangue não acontece alteração no metabolismo”.
Além disso, há quem acredite que pessoas com tatuagem não podem doar. Esse é mais um equívoco. “Quem tem tatuagem pode doar, sim, desde que respeite o tempo de espera estipulado, que é de seis meses após a realização”, afirma a profissional.
As vacinas também geram muitas dúvidas entre os possíveis doadores. Cada uma tem suas recomendações específicas, mas no geral, é preciso aguardar de 48 horas a 4 semanas. Em caso de gripe, é necessário esperar 7 dias após o fim dos sintomas; para a Covid-19, o intervalo varia entre 10 e 30 dias, a depender da gravidade e da presença de sintomas.
A especialista ainda explica que pessoas com pressão alta controlada e diabete tratada com dieta ou medicamentos orais também podem ser doadoras, desde que avaliada a condição individualmente. Aqueles que fazem uso de insulina, geralmente, não podem doar.
Triagem rigorosa garante segurança
Antes da doação, todos os voluntários passam por uma triagem rigorosa, fundamental para garantir a segurança tanto de quem doa quanto de quem recebe o sangue. “A triagem inclui cadastro com dados pessoais e histórico médico, avaliação de sinais vitais, teste de hemoglobina e uma entrevista confidencial sobre hábitos de vida”, detalha a coordenadora.
Segundo Karoline, doar sangue é um procedimento seguro, e os riscos são mínimos quando todas as orientações são seguidas corretamente. “Algumas pessoas podem sentir tontura leve ou fraqueza, mas isso passa rapidamente porque a quantidade de sangue coletada é pequena, e o corpo repõe rapidamente”.
Ela também orienta sobre a frequência ideal para cada perfil: “Homens podem doar a cada dois meses, até quatro vezes por ano; já as mulheres, a cada três meses, até três vezes por ano”.
Além da escassez natural nos meses mais frios, outro desafio é manter o hábito da doação ao longo do ano. “O sangue tem prazo de validade. Por exemplo, as plaquetas duram apenas cinco dias. Então, precisamos de doações regulares para atender às emergências, como cirurgias, acidentes e anemias graves”, alerta a profissional.