Já ouviu falar em doença de Crohn ou retocolite ulcerativa? Infelizmente, essas enfermidades estão cada vez mais presentes no vocabulário e vida dos brasileiros e não é diferente entre os potiguares. Essas patologias estão entre as doenças inflamatórias intestinais (DII) mais comuns e se caracterizam pela inflamação de diferentes segmentos do trato gastrointestinal, principalmente nos intestinos. Para conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce das DII, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) realiza anualmente a campanha Maio Roxo, que tem seu ponto alto no dia 19 de maio, quando é celebrado o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais.
No Rio Grande do Norte, o Hospital Gastroprocto, referência na área, está promovendo ações inseridas dentro da programação estadual, organizada pela seccional da SBCP. Segundo o diretor técnico da unidade hospitalar, o cirurgião geral e endoscopista Gutembergh Nóbrega, estão realizando ações com foco nas mobilizações das redes sociais. “As doenças inflamatórias intestinais não têm cura, mas a confirmação do diagnóstico de forma precoce permite um tratamento mais efetivo e melhor qualidade de vida ao paciente. Precisamos reforçar essa corrente de conscientização para que as pessoas busquem o quanto antes informações oficiais”, alerta o especialista.
PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA
No Brasil, a prevalência das doenças inflamatórias intestinais chega a 100 casos para cada 100 mil habitantes no sistema público, sendo a maior concentração nas regiões Sudeste e Sul. Em alguns países desenvolvidos, a prevalência pode chegar a até 1% da população. Já a incidência média (ocorrência de novos casos) em 2020 no país foi de 7 casos para retocolite ulcerativa e 3 para doença de Crohn para cada 100 mil habitantes, aponta estudo que analisou as taxas de incidência e prevalência de DII no Brasil de 2012 a 2020, tendo como base dados provenientes do DataSUS.
O estudo analisou informações de 212.026 pacientes com DII de ambos os sexos (140.705 com doença de Crohn e 92.326 com retocolite ulcerativa). A pesquisa apontou que a incidência de DII subiu de 9,41 por 100 mil habitantes em 2012 para 9,57 por 100 mil habitantes em 2020, o que corresponde a uma variação percentual anual média de 0,80%. Já a prevalência de DII aumentou de 30,01 por 100 mil habitantes em 2012 para 100,13 por 100 mil habitantes em 2020, correspondendo a uma variação percentual anual média de 14,87%.
FATORES DE RISCO
As DII são mais frequentes em adolescentes e adultos jovens (15 a 40 anos) e sua causa está relacionada a fatores diversos, como genéticos, imunológicos, ambientais, alimentares e alteração da flora intestinal (disbiose intestinal). O histórico familiar de DII em parentes de primeiro grau aumenta levemente o risco de desenvolvimento das doenças. Já o tabagismo é comprovadamente fator de risco para agravamento da doença de Crohn.
SINTOMAS
Apesar de serem semelhantes, as DII possuem diferenças. A retocolite ulcerativa acomete o intestino grosso (cólon) e reto, enquanto a doença de Crohn pode atingir todo o trato digestório (desde a boca até o ânus), sendo mais prevalente no intestino delgado (íleo), colón e região perianal. Enquanto na primeira, apenas a camada mais superficial que reveste o intestino (mucosa) é acometida, na segunda, todas as camadas intestinais (mucosa, submucosa, muscular e serosa) podem ser atingidas pela inflamação, aumentando o risco de complicações como estreitamentos e perfurações intestinais.
Diarreia crônica com presença sangue e muco ou pus, com períodos de melhora e piora, associadas a cólicas abdominais, urgência evacuatória, falta de apetite, fadiga e emagrecimento costumam ser os sintomas mais frequentes. Em casos mais graves, observam-se ainda anemia, febre, desnutrição e distensão abdominal. Cerca de 15 a 30% dos pacientes com DII podem apresentar manifestações extraintestinais como dor nas articulações, lesões de pele ou oculares.
DIAGNÓSTICO
Para confirmar o diagnóstico das DII o especialista analisa a história clínica e solicita exames laboratoriais, endoscópicos (endoscopia digestiva alta e colonoscopia) com biópsias, além de exames radiológicos (tomografia ou ressonância magnética com foco no intestino). “É importante salientar que os sintomas das DII são similares aos de doenças comuns, como síndrome do intestino irritável e diarreias infecciosas, por isso é fundamental uma análise global do paciente”, reforça Nóbrega.