O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, informou nesta segunda-feira (1º) que irá receber por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o antiviral tecovirimat para combate ao surto de varíola dos macacos no Brasil.
Segundo o ministro, “serão contemplados os casos mais graves no país em um primeiro momento”. O antiviral tecovirimat bloqueia a disseminação do vírus e já é usado em alguns países. Trata-se de um medicamento antiviral com atividade contra ortopoxvírus, como varíola e varíola dos macacos. É o primeiro medicamento antipoxviral aprovado nos Estados Unidos. A droga funciona bloqueando a transmissão celular do vírus, prevenindo assim a doença.
O Ministério da Saúde já encomendou 50 mil doses da vacina contra a varíola dos macacos. A previsão é que cerca de 20 mil doses cheguem ao país em setembro e o restante em novembro. A vacina é produzida por um laboratório da Dinamarca e a solicitação dos lotes para o Brasil foi feita à Opas.
Nesta sexta-feira (29) foi registrada a primeira morte no Brasil pela doença. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que a vítima trata-se de um paciente do sexo masculino, de 41 anos, com imunidade baixa e comorbidades, incluindo câncer (linfoma), que o levaram ao agravamento do quadro. Ficou hospitalizado em hospital público em Belo Horizonte, sendo depois direcionado ao CTI. A causa de óbito foi choque séptico, agravada pelo Monkeypox.
O secretário de Vigilância do Ministério, Arnaldo Medeiros, explicou nesta sexta-feira que a vacina que será adquirida é feita a partir de um vírus não-replicante. “A OMS (Organização Mundial de Saúde) não recomenda vacinação em massa. Não estamos falando em uma campanha de vacinação como fizemos com a covid-19. São doenças absolutamente distintas”, disse Medeiros.
Segundo ele, o público-alvo da vacina será o de trabalhadores de saúdes que fazem o manejo das amostras coletadas a partir das lesões e pessoas que tiveram contato direto com pessoas infectadas.
Conhecida internacionalmente como monkeypox, a doença, endêmica de regiões da África, já atingiu neste ano 20.637 pessoas em 77 países. Mais de 70% vêm da Europa e 25%, das Américas. No mundo, 5 mortes pela doença já haviam sido relatadas à OMS até quarta-feira (27).
No Brasil, já são 978 casos da doença, sendo 744 apenas em São Paulo. Nesta semana, a capital paulista confirmou os primeiros casos da doença em crianças.
- São Paulo – 744
- Rio de Janeiro – 117
- Minas Gerais – 44
- Paraná – 19
- Distrito Federal – 15
- Goiás – 13
- Bahia – 5
- Ceará – 4
- Santa Catarina – 4
- Rio Grande do Sul – 3
- Pernambuco – 3
- Rio Grande do Norte – 2
- Espírito Santo – 2
- Tocantins – 1
- Mato Grosso do Sul – 1
- Acre – 1
Entenda a transmissão, os sintomas e a vacina
Considerando a importância da informação para combater o avanço do surto, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou nesta quinta-feira (28) um encontro onde especialistas apresentaram o que já se sabe sobre a doença e também responderam dúvidas de participantes presenciais e online.
“Esse vírus nós conhecemos e sabemos como lidar com ele. Temos todos os elementos para fazer sua erradicação”, disse o médico Amilcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ e consultor do Ministério da Saúde.
Segundo ele, como já existem muitos estudos sobre a monkeypox, é uma situação diferente da covid-19, que surgiu como uma doença nova. No entanto, o pesquisador alerta que o sucesso no combate ao surto dependerá do compromisso do poder público.
A monkeypox é causada por um poxvírus do subgrupo orthopoxvírus, assim como ocorre por outras doenças como a vaccinia, a cowpox e a varíola humana, erradicada em 1980 com o auxílio da vacinação. O quadro endêmico no continente africano se deve a duas cepas distintas.
Uma delas, considerada mais perigosa por ter uma taxa de letalidade de até 10%, está presente na região da Bacia do Congo. A outra, com uma taxa de letalidade de 1% a 3%, encontra-se na África Ocidental e é a que deu origem ao surto atual.
No entanto, segundo o médico, o vírus em circulação sofreu um rearranjo gênico que contribuiu para sua capacidade de transmissão pelo mundo. “Ele teve uma evolução disruptiva. Ele sofreu uma mutação drástica”, afirmou. O pesquisador afirmou que casos graves não são recorrentes. A preocupação maior abrange os grupos de risco que incluem imunossuprimidos, crianças acima de 13kg e gestantes.
“A taxa de letalidade tem relação com o sistema de saúde local. No surto atual, até o momento não tivemos óbitos fora das áreas endêmicas. Isso mostra que o vírus da monkeypox é de baixa letalidade”, salientou a virologista Clarissa Damaso, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da UFRJ e assessora da OMS.
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