A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) receberam o patenteamento de nova tecnologia que pode ser empregada no desenvolvimento de próteses para implantes ósseos, neurais (sistema nervoso periférico) e vasculares, com boa capacidade de promover a regeneração de vasos sanguíneos, angiogênese e adaptação biomecânica aos tecidos nativos. Esses possíveis componentes artificiais, após promoverem o crescimento e proliferação celular do tecido local, são substituídos totalmente pelo tecido nativo com a reconstituição e simultânea decomposição em ambiente biológico no corpo do paciente. O grupo de autores da descoberta é formado por Rógerson Rodrigues Freire Ramos, José Daniel Diniz Melo e Eliton Souto de Medeiros.
Rógerson esclarece que o dispositivo criado trata de componentes empregados no processo de fabricação de nanofibras por meio da técnica de fiação por sopro em solução. “A patente não é a prótese nem o implante, que fique claro. O objeto da concessão é um processo capaz de conformar nanofibras em túbulos, como canudinhos, fabricados com materiais bioreabsorvíveis que podem vir a ser utilizados como veias artificiais. Então, você está com algum problema vascular, uma veia entupida no coração, ao invés de tirar a ponte de safena da perna, utiliza-se esse tubinho, que pode se adequar às dimensões de qualquer componente do sistema vascular, reduzindo o número de intervenções cirúrgicas necessárias para o tratamento do paciente, que teria o vaso sanguíneo reconstituído totalmente com o crescimento celular do tecido natural, e decomposição in situ da prótese”, explica Rógerson Ramos.
O pesquisador pontua que, durante o estudo, foi feita a análise mecânica dos canudinhos, que puderam ser produzidos com uma variedade de dimensões, capazes de se encaixar em qualquer componente do sistema vascular. Hoje professor do Departamento de Engenharia Têxtil da UFRN, Ramos pontua que foram desenvolvidos uma matriz de fiação, com múltiplos bicos de alimentação e um coletor intermediário de formato cônico. As estruturas são criadas a partir daí, com movimentos de rotação para que se adquira a forma helicoidal das nanofibras ao longo da estrutura tubular.
“Esses dispositivos, aliados a etapas posteriores de extração e tratamento térmico, proporcionam a obtenção de estruturas tridimensionais com boa estabilidade mecânica e capacidade de adaptação morfológica. Isso significa que, ao fim do processo, a prótese é degradada totalmente e eliminada por rotas metabólicas sem que haja prejuízo ao paciente, permanecendo o tecido natural reconstituído”, relata Rógerson. Na época em que aconteceu o depósito do pedido de patente, em 2017, o professor era doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da UFRN, enquanto que os testes ocorreram no Laboratório de Materiais e Biossistemas, vinculado à Pós-Graduação em Engenharia de Materiais da UFPB.
Em vídeo, o pesquisador fala um pouco mais sobre a descoberta (https://www.instagram.com/agirufrn/?hl=pt-br)
Orientador da pesquisa, José Daniel Diniz Melo situa a importância do dispositivo pela sua capacidade de produzir materiais nanoestruturados, tridimensionais, com boa estabilidade dimensional e controle morfológico refinado. Esse domínio é baseado numa disposição fractal, ou seja, que se repete desde as interconexões nanométricas entre as fibras, passando pela microestrutura até o aspecto visual macro, perceptível a olho nu.
Atualmente reitor da UFRN, Daniel Diniz acredita que a busca pelo patenteamento dentro do âmbito acadêmico estimula nas instituições de ensino e pesquisa o desenvolvimento de novas tecnologias por meio da proteção à propriedade intelectual, “o que vai fomentar o interesse dos alunos por investigações científicas e contribuir para o desenvolvimento tecnológico nacional, a formação intelectual e a capacitação profissional da população acadêmica”, cita.
Pesquisa que não para
Nessa perspectiva, atualmente estão sendo desenvolvidos, no Laboratório de Nanofibras (Lanan), do Departamento de Engenharia Têxtil da UFRN, novos dispositivos para produção de materiais nanoestruturados com diversas aplicações envolvendo a área médica. Entre esses está a produção de scaffolds para reconstituição celular de tecidos biológicos e curativos com liberação controlada de fármacos, além da área tecnológica, como filtros para tratamento de efluentes com capacidade de adsorção de corantes e metais pesados.
“Desse ativo de que estamos recebendo o patenteamento definitivo agora, existe um protótipo que hoje é utilizado como base para o estudo de novas tecnologias em fabricação de materiais nanoestruturados, além da sequência e melhoria das estruturas tubulares obtidas até aqui”, descreve Rógerson. Ele acrescenta ainda a possibilidade de incorporação de fármacos para liberação controlada como antibióticos e anti-inflamatórios, além de óleos e extratos essenciais, ampliando assim a capacidade terapêutica e o universo de aplicação desses produtos.
Patenteamento
A concessão recebida por Rógerson Ramos, Eliton Medeiros e Daniel Diniz recebeu o nome de Sistema de produção de mantas tubulares não tecidas a partir de micro e nanofibras obtidas por fiação por sopro em solução. Patente é um direito exclusivo sobre uma invenção ou criação industrializável, concedido por órgão público oficial – no caso do Brasil, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
A concessão da patente significa que o Instituto reconheceu o ineditismo da pesquisa, bem como sua aplicação industrial e atividade inventiva. Ter a patente de uma nova tecnologia significa ter o direito de impedir terceiros de a produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar o produto objeto de patente ou processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado sem o seu consentimento.
Por Wilson Galvão – ASCOM – Agência de Inovação da Reitoria/UFRN