O Nordeste brasileiro pode contar, em breve, com uma companhia aérea regional de caráter estatal, voltada à conexão entre cidades do interior e destinos turísticos dos nove estados que compõem a região. A proposta, que visa ampliar a integração aérea e fortalecer o turismo local, está sendo avaliada pelo governo federal em conjunto com o Consórcio Nordeste, entidade que reúne os governadores estaduais.
A ideia foi apresentada pelo ministro do Turismo, Celso Sabino, durante evento no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (19). Segundo ele, o objetivo é encontrar soluções diante da redução da malha aérea regional e da crescente concentração do mercado nas mãos de poucas companhias.
“O consórcio de governadores do Nordeste trabalha na concessão de incentivos que viabilizem uma nova companhia aérea regional, ou até mesmo a criação de uma estatal coordenada pelos próprios estados nordestinos”, afirmou o ministro.
Mercado regional encolhe com fusões e cortes
A proposta surge em meio ao avanço de negociações para a possível fusão entre Azul e Gol, o que pode impactar ainda mais a concorrência e oferta de voos regionais. Cidades de médio porte no Nordeste têm perdido voos comerciais, enquanto destinos turísticos menores enfrentam dificuldades para manter conexões regulares.
Atualmente, operam na região companhias como MAP Linhas Aéreas, Azul Conecta e Abaeté Linhas Aéreas, que prestam serviços em áreas de menor demanda. No entanto, a baixa rentabilidade e o custo elevado da operação tornam essas rotas cada vez mais escassas.
Viabilidade ainda é desafio, mas incentivos regionais favorecem debate
Especialistas do setor aéreo apontam desafios consideráveis para a criação de uma estatal, como altos custos operacionais, necessidade de gestão eficiente e articulação política entre os estados. Porém, a região possui incentivos fiscais estratégicos, que podem atrair investimentos e viabilizar o projeto.
A área da Sudene, por exemplo, oferece redução de até 75% no Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) para empresas que atuam no Nordeste. Além disso, estados como Pernambuco aplicam alíquotas menores de ICMS sobre o combustível de aviação, o que reduz custos para companhias regionais.
Turismo e integração regional como foco do Consórcio Nordeste
A criação da companhia aérea regional está alinhada a iniciativas do Consórcio Nordeste voltadas à promoção do turismo integrado, como o acordo com a Embratur, firmado em 2024, que prevê ações de qualificação, promoção internacional e divulgação de roteiros culturais.
A proposta pretende reduzir a dependência dos grandes hubs localizados no Sudeste e aumentar o fluxo de turistas entre capitais e cidades do interior, impulsionando o desenvolvimento econômico de forma mais equilibrada.
Leilões de aeroportos e a retomada da malha regional
Outro fator que pode favorecer a aviação regional no Nordeste são os leilões de aeroportos planejados pelo governo federal. A modernização da infraestrutura aeroportuária deve tornar terminais regionais mais atrativos para operadores e ajudar a recompor a malha aérea em estados da região nos próximos anos.
Histórico reforça a importância da aviação regional no Nordeste
A proposta também resgata o histórico da Nordeste Linhas Aéreas, companhia fundada em 1976 que operou até 2003, quando foi incorporada pela Varig. A empresa atuava conectando cidades como Salvador, Recife, Natal, João Pessoa e Campina Grande.
Ainda que a criação de uma nova estatal aérea seja um projeto de longo prazo, o debate reacende a urgência de soluções concretas para manter e ampliar a conectividade aérea na região Nordeste, essencial para o turismo, negócios e inclusão regional.