No mês do Setembro Amarelo, campanha de valorização da vida e de prevenção ao suicídio, o psicólogo e professor da Universidade Potiguar (UnP), Ronald França, fez uma análise sobre a saúde mental da população LGBTQIAPN+ e como o preconceito colabora para o distanciamento do indivíduo de grupos e lugares que podem contribuir para a sua vivência plena e o seu bem-estar físico e mental.
A reflexão do especialista está de acordo com a revista científica norte-americana Pediatrics. Segundo os dados do periódico, 62,5% das pessoas LGBTQIAPN+ já tiveram pensamentos suicidas. Além disso, foi constatado que essa população tem seis vezes mais chance de cometer o ato, em comparação a pessoas heterossexuais.
“Além da própria violência de não se sentir bem-quisto em determinado espaço, o preconceito afeta psicologicamente o sujeito quando atrapalha a formação de sua identidade, e isso acontece quando há uma limitação imposta pela exclusão”, explica Ronald.
Parte do sentimento de não pertencimento que muitas pessoas LGBTQIAPN+ sentem, é fruto da forma como a sociedade lida com a temática da sexualidade, lembra o psicólogo. Com o preconceito estrutural que é parte do cotidiano brasileiro, pessoas gays, lésbicas ou transexuais precisam enfrentar mais situações de medo, solidão ou até mesmo de luta, no sentido de precisar se impor diante situações de discriminação ou quando um direito é negado.
Viver nessa tensão pode gerar um processo de ansiedade ou depressão, por isso é tão importante buscar apoio profissional para cuidar da saúde mental. “Para algumas pessoas, a luta pelos seus direitos já é uma forma de construção de identidade e cuidado da saúde mental, mas é preciso ter atenção sobre quais espaços se busca ocupar, para não ocasionar mais sofrimento ao indivíduo”, alerta França, que também é membro do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CRP-17/RN).
Rede de apoio
Buscar uma rede de apoio segura pode ser uma das formas de lidar com situações de preconceito e discriminação. Na falta de acolhimento por parte de pessoas e instituições que estão próximas do indivíduo, grupos de apoio ou de defesa da causa LGBTQIAPN+, assim como o auxílio de um profissional de saúde capacitado para lidar com o tema, podem ser fundamentais.
Para o psicólogo, essa busca por espaços de acolhimento permite aprender a enfrentar os desafios de uma sociedade que ainda precisa avançar na garantia de segurança e direitos para todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual.
“É muito importante pensar na saúde mental de pessoas LGBTQIAPN+ e da população em geral não só no Setembro Amarelo. O cuidado com a vida humana, levando em conta suas particularidades, precisa acontecer o ano inteiro. Quando entendemos que a promoção de saúde mental é uma questão política, econômica e social, compreendemos que não podemos dar destaque a uma campanha sobre a temática que não pense, fale e pratique inclusão, respeito às diferenças e combate aos discursos de ódio e práticas de violência”, lembra Ronald França.