O policial militar acusado de assassinar a estudante universitária Zaira Dantas da Silveira Cruz, de 22 anos, será julgado em Natal. O júri popular, que deveria ocorrer em Caicó, município onde aconteceu o crime, teve seu desaforamento confirmado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Nesta segunda-feira (26), o pleno do Órgão autorizou a remoção do Júri para a comarca da capital potiguar. O julgamento será realizado no Fórum Desembargador Miguel Seabra Fagundes, em data ainda a ser definida.
Zaira cursava o último ano de Engenharia Química na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa). O corpo dela foi encontrado dentro do carro do sargento da PM Pedro Inácio de Maria, de 37 anos. Isso aconteceu no dia 2 de março de 2019, um sábado de carnaval. O veículo estava no estacionamento de um condomínio em Caicó, também no Seridó, onde o policial e um grupo de amigos haviam alugado uma casa para passarem o feriado.
O caso
De acordo com denúncia feita à Justiça pelo Ministério Público Estadual, a jovem foi estuprada e brutalmente assassinada por estrangulamento. Acusado por homicídio triplamente qualificado (com uso de asfixia, para assegurar a ocultação de outro delito e feminicídio), o sargento foi preso em casa, duas semanas após o crime. Desde então, permanece no Quartel Geral da Polícia Militar, em Natal, onde aguarda o julgamento.
Em março de 2021, a primeira fase do processo foi concluída e o juiz criminal Luiz Cândido de Andrade Villaça decidiu que o policial militar iria a júri popular. Na mesma sentença, o magistrado negou pedido de liberdade feito pela defesa do réu.
No dia da prisão do sargento, a Polícia Civil divulgou laudo do Instituo Técnico-Científico de Perícia, contendo a causa da morte de Zaira. Segundo o documento, a garota havia sofrido asfixia mecânica por meio de estrangulamento. Na época. O diretor do Itep-RN, Marcos Brandão, chegou declarar que a estudante fora vítima de uma morte cruel. “A estudante apresentava lesões no cérebro, nos olhos e pulmões. Além disso, dedos e lábios cianóticos (roxos). Essas características são bem contundentes para asfixia mecânica por estrangulamento, o que materializa o crime de homicídio”, afirmou.
O delegado de Polícia Civil Leonardo Germano, titular da DP de Caicó quando aconteceu o caso, foi quem presidiu o inquérito. À época, ele disse à imprensa que foi o próprio PM quem chamou a polícia para comunicar que havia encontrado o corpo de Zaira dentro do carro dele. “Em um primeiro depoimento, ele disse que teve relação sexual com a jovem dentro do carro, antes de chegarem ao condomínio. E que ela havia apagado dentro do veículo, e que ele a deixou dormindo no carro porque não quis acordá-la. E quando amanheceu, ele foi no carro vê-la, e ela estava morta. Porém, acreditamos que ele já chegou na casa com ela morta dentro do carro, e que, em algum momento antes, ele a violentou e a matou”, ressaltou o delegado, revelando ainda haver indícios fortes de que a moça havia sido estuprada.
Ainda de acordo com o delegado, no dia da prisão, o sargento se reservou ao direito de permanecer em silêncio e só falar em juízo.
Mãe de Zaira suplica por júri de PM: “Ninguém me escuta”
“Minha filha estava naquele carnaval se divertindo como qualquer outra adolescente, e um policial chega e arranca, estupra, mata, estrangula. Minha filha foi tirada da vida no auge da sua juventude. Ela tinha um futuro brilhante pela frente”, diz emocionada a mãe de Zaira, dona Maria Ozanete Dantas, em entrevista ao iBandRN.
“Às vezes pego minha filha chorando, a minha outra filha chorando, vendo as fotinhas de Zaira, e ela chorando. E eu tenho que ser forte para não me abalar junto com ela, para não cair. É justiça. Só quero justiça, nada mais”, prossegue dona Ozanete.
A mãe de Zaira insiste: “Parece que ninguém me escuta. Parece que a Justiça é muito demorada. A Justiça é muito falha em questão disso. Tá aí, as provas são contundentes, são muito fortes contra ele. Ele foi a última pessoa a ver minha filha viva. Ela foi morta dentro do carro dele e ninguém faz nada, ninguém age… Ninguém, ninguém olha, e eu tô aqui, novamente, pedindo, clamando. Eu só quero ter um pouquinho de paz”.
“Eu só quero poder dormir e acordar e saber que a justiça foi feita. Minha filha precisa descansar em paz e eu preciso ter um pouquinho só de paz, mas tô aqui, novamente, clamando, pedindo para que façam alguma coisa, para que esse julgamento saia. Porque é o mínimo que pode ser feito agora, porque minha filha eu não vou ter mais de volta. É isso. Justiça, é só o que eu espero”, finalizou.