Em dezembro de 2020 e janeiro de 2021 o mercado automotivo brasileiro foi impactado por duas notícias bombásticas: a Mercedes-Benz e a Ford anunciaram que deixariam de produzir carros no Brasil.
Alguns meses depois, a marca alemã anunciou a venda de sua planta em Iracemápolis para a chinesa GWM, e agora, ao que tudo indica, a norte-americana passará a sua fábrica baiana para outra montadora sediada na China, a BYD. Afinal, por que marcas tradicionais desistiram do país enquanto as chinesas apostam em nosso mercado?
Sediadas no país com maior número de carros elétricos do mundo, BYD e GWM, naturalmente, produzirão modelos a baterias por aqui. Essa é a principal diferença entre elas e Mercedes e Ford, que fabricavam veículos já estabelecidos a combustão e não tinham previsão de mudar a linha de produção. Na época, entre 2020 e 2021, as vendas dos carros fabricados no país não estavam compensando os custos com as fábricas, o que fez as gigantes desistirem da produção local.
A GWM é a maior empresa automotiva chinesa de capital 100% privado, e afirma que, nos próximos 10 anos, investirá mais de R$ 10 bilhões na sua operação no Brasil, com veículos eletrificados e conectados. Já a BYD deu o primeiro passo para o início da comercialização de automóveis de passeio no país em 2021, e hoje já conta com cinco modelos lançados e uma rede de concessionárias em operação.
Para o consultor automotivo Cássio Pagliarini , da Bright Consulting, as chinesas vêm com uma proposta totalmente diferente das montadoras tradicionais que deixaram o país: produzir veículos eletrificados (BEV, HEV e PHEV).
“Ford e Mercedes-Benz tinham fábricas que produziam veículos a combustão com baixa rentabilidade sem tecnologia interna para virar as fábricas para outra motorização. No caso da Ford, foram fechadas fábricas na Europa, Índia e Austrália. O próprio CEO da Ford disse que ainda não são tão eficientes quanto os chineses para determinadas manufaturas”, opina.
O consultor ressalta que a escolha dos chineses por esses locais também leva em conta uma negociação favorável desses ativos e os incentivos fiscais disponíveis até o fim de 2025, e que poderão ser prorrogados.
Contextos diferentes
Já o consultor automotivo Ricardo Bacellar explica que as chinesas vivem contextos diferentes das montadoras tradicionais. Segundo ele, o que realmente tem atraído as chinesas para cá é o tamanho do nosso mercado e o segmento de carros de volume, que vem sendo deixado de lado pelas montadoras locais.
“As montadoras mesmo têm vocalizado que estão dando preferência a veículos de maior valor agregado em detrimento dos carros de volume, que são menos rentáveis. Com isso, os carros de entrada sumiram do mercado. Já as empresas chinesas têm um volume de produção grande em todo o mundo, conseguindo suprimentos com preços mais competitivos”, analisa.
Para ele, BYD e GWM têm algo forte em comum: apostam em carros elétricos com alto embarque de tecnologia e com preços bem abaixo dos concorrentes do mesmo patamar.
“Não estamos falando de preços populares, mas de preços competitivos dentro do seu segmento”, pondera. De acordo com Bacellar, uma prova da estratégia das chinesas é o aumento que a GWM promoveu na planta que pertencia à Mercedes-Benz, que ampliou a capacidade de produção de 20 mil unidades por ano para 100 mil.
“A BYD deve fazer o mesmo em Camaçari, ampliar o volume. Enquanto as marcas tradicionais focam em margem em detrimento do volume, as chinesas estão fazendo o contrário. Não há certo ou errado, são formas diferentes de trabalhar”, pontua o especialista.
Uol