A notícia dada na transmissão da Band caiu como uma bomba, ao mesmo tempo em que não era exatamente inesperada: o Grande Prêmio da França estará fora do calendário da Fórmula 1 em 2023.
A decisão da F1 dividiu o público nas redes sociais. Muita gente se mostrou satisfeita, com críticas às corridas recentes em Paul Ricard. Ao mesmo tempo, muita gente se mostrou aborrecida com o fato de a categoria máxima do automobilismo mundial deixar um dos berços das competições da modalidade – afinal, o país já realizava corridas de carros no fim do século XIX.
Mas, como dito, não chegou a ser uma surpresa. Em declarações veiculadas na última quarta-feira (20) pela AlphaTauri, Pierre Gasly já sentia que a corrida do fim de semana poderia ser a última diante da própria torcida.
“É um fim de semana especial, já que é minha corrida em casa. Particularmente, neste ano, há alguma incerteza a respeito do Grande Prêmio da França. Não estamos certos se ele permanece no calendário para o ano que vem”, afirmou o piloto francês.
Fora da Fórmula 1 entre 2009 e 2017, o GP da França assinou contrato com a categoria para realizar inicialmente cinco corridas entre 2018 e 2022. A etapa de 2020 acabou cancelada em decorrência da pandemia da Covid-19, então já era sabido de antemão que a situação para 2023 demandava atenção.
De lá para cá, cresceu ainda mais o interesse da F1 em novos mercados, dispostos a pagar (bem) mais para receber a disputa. Nos próximos anos, a categoria voltará à China (fora do calendário entre 2020 e 2022 por causa da Covid-19), ao Qatar (etapa que estreou em 2021 e volta em 2023) e a Las Vegas (sonho antigo da F1, que correu na cidade em 1982), e caminha para voltar também à África do Sul (disputado pela última vez em 1993). Com um calendário apertado, algumas mudanças se mostraram inevitáveis.
Considerando-se o calendário de 2022 e o acréscimo das quatro etapas em questão, a temporada de 2023 chegaria a um número inviável: 26 corridas. Assim, a pressão é maior para etapas cujos contratos terminam neste ano. Casos de França, Bélgica e Mônaco.
No caso de França e Mônaco, o CEO da Fórmula 1, Stefano Domenicali, já acenou com a possibilidade de uma futura corrida de rua em Nice, na Riviera Francesa, para substituir as duas provas com uma só – ao mesmo tempo em que pressiona o Automóvel Clube de Mônaco. No caso da Bélgica, a permanência é defendida por Max Verstappen (Red Bull), que lembra do apreço dos pilotos pelo traçado de Spa-Francorchamps.
O público que defende a permanência do GP da França logo pensou em alternativas a Paul Ricard. Esteban Ocon, piloto da Alpine, disse que uma corrida em Le Mans seria “incrível”. De fato, a pista já recebeu o GP da França de 1967 (vitória de Jack Brabham), além de outros grandes prêmios anteriores à Fórmula 1.
O problema é que o circuito completo de La Sarthe, com 13,6 km por volta, torna uma corrida de Fórmula 1 atual impossível. Ao mesmo tempo, o Circuito Bugatti (um recorte de 4,185 km usado em diversas categorias) é considerado “decepcionante” pelo site Autoweek, que descreve a hipótese como “absurda e descolada da realidade”.
Reims e Rouen, que juntas receberam 16 corridas na França, não existem mais. Há outras pistas, como Dijon e Clermont-Ferrand, mas ambas carecem de atualizações. E mesmo Magny-Cours, com 18 corridas entre 1991 e 2008, não oferecia boas condições logísticas e não empolga a Fórmula 1 em uma era de busca por novos mercados.
Assim, formou-se um cenário ideal para que a Fórmula 1 limasse a França dos planos. O crescente interesse por pistas nos Estados Unidos e no Oriente Médio chega ao mesmo tempo em que os contratos com pistas tradicionais vão se encerrando – e o GP da França, embora tradicional, já não é nenhuma unanimidade nos últimos anos. Sobrou.
Pode não ser o que o fã mais nostálgico gostaria, em especial pelo valor histórico do automobilismo francês. Mas parece ser um caminho que a Fórmula 1 decidiu traçar. E que deve deixar mais pistas pelo caminho.
Band