Foi inaugurado hoje o primeiro museu indígena do Rio Grande do Norte. Localizado em Apodi, o projeto do Museu do Índio Luiza Cantofa foi idealizado por Lúcia Paiacu Tabajara e realizado com recursos arrecadados junto a apoiadores, ao lado da lagoa de Apodi, onde foram localizados artefatos que comprovam a presença de indígenas da etnia Paiacu na região.
A construção foi resultado do esforço de vários parceiros. “Lembro quando carregávamos as pedras para construir esse museu, para criar o jardim. A inauguração deste museu é um passo para que a gente possa garantir que a história dos indígenas se perpetue a todas as gerações”, comenta Lúcia.
Outros museus indígenas também estão previstos para serem criados nos próximos anos no Rio Grande do Norte, como o Museu Manoel Serafim Soares, em fase de implantação no Catu dos Eleotérios, comunidade indígena localizada entre Canguaretama e Goianinha.
Segundo Meyriane Costa, mestranda do Programa de Pós-graduação em Antropologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisadora do povo Potiguara no RN, o Museu comunitário indígena Manoel Serafim Soares será um importante lugar de “memória viva” para o povo potiguara Catu, pois abrigará as lembranças de um povo que reconhece as pegadas de seus ancestrais na mata em busca de seu próprio sustento.
“Os museus indígenas são como lugares de habitação permanente de objetos preservados e doados por cada grupo familiar de seus territórios. Eles são uma representação genuína de cada narrativa oral de uma comunidade tradicional indígena”.
Iniciativas como estas contribuem para visibilizar violências e violações impostas aos povos indígenas do Rio Grande do Norte e preservar memórias que não foram registradas pela Historiografia oficial. “Apodi é uma cidade dentro da aldeia. A aldeia virou uma cidade e nós não temos culpa disso. Fui chamada de maluca, quando mostrei que Apodi é uma cidade indígena, quando falei que Apodi é um museu a céu aberto. Hoje, após anos de dedicação, estamos inaugurando o Museu Luíza Cantofa”, comentou Lúcia Paiacu.
A inauguração ocorreu durante a programação da VII Assembleia Indígena do Rio Grande do Norte (AIRN) e da IV Assembleia de Mulheres Indígenas do RN (AMIRN) sediadas pela primeira vez pelo município de Apodi e contou com a presença de lideranças de várias comunidades indígenas do RN.
Durante as assembleias, que seguem até o dia 28 de julho, os representantes das comunidades debaterão as principais dificuldades enfrentadas em seus territórios, listarão as demandas referentes à Saúde; Educação; Terra, Território, Meio Ambiente; Etnodesenvolvimento; Cultura, Juventude e Mulheres e Fortalecimento político e Comunicação e encaminharão as demandas aos órgãos competentes.
Estão participando das assembleias representantes de vários órgãos oficiais, como Funai do Rio Grande do Norte e do Ceará, secretarias municipais e estaduais de educação e de assistência social, Incra, instituições de ensino como IFRN e UERN, entre outras organizações, além de lideranças e moradores de várias comunidades indígenas do Rio Grande do Norte.
