O mês de outubro continua sendo reconhecido internacionalmente como o “Outubro Rosa,” um período dedicado à conscientização sobre o câncer de mama e à promoção da importância da prevenção e detecção precoce. No entanto, em um contexto cada vez mais orientado para a saúde mental, profissionais de Psicologia enfatizam a relevância da rede de apoio emocional durante o processo de enfrentamento da doença.
Para Ana Izabel Lima, psicóloga e professora do Mestrado Profissional em Psicologia da Universidade Potiguar (UnP), o diagnóstico de câncer, qualquer que seja o tipo, é uma experiência desafiadora e impactante. Além dos aspectos físicos e médicos envolvidos, a dimensão emocional desempenha um papel fundamental na jornada do paciente.
“De acordo com relatos de pacientes e segundo minha observação durante sessões de terapias, o câncer não afeta apenas o corpo, mas toda a vida da pessoa. É uma montanha-russa de emoções que inclui medo, ansiedade, tristeza e até mesmo raiva”, frisa.
A especialista também destaca que o diagnóstico de câncer é um momento em que coloca as pessoas em um estado de vulnerabilidade inegável, fazendo com que elas percebam a fragilidade da condição humana diante do risco e da falta de controle sobre as situações ao seu redor. Nesse cenário, a autonomia muitas vezes se vê limitada, e surge a oportunidade de uma transformação profunda na forma de pensar, de enxergar a si mesmo e o mundo, bem como de se reinventar diante das circunstâncias impostas pela doença.
Uma das áreas em que essa transformação é notável é na maneira como passamos a perceber o próprio corpo. Segundo Ana Izabel, frequentemente tratamos o corpo como se fosse um objeto separado de nós mesmos, quando na verdade, ele é parte intrínseca de nossa identidade. Com o diagnóstico de câncer, muitos pacientes são confrontados com uma nova perspectiva em relação a seus corpos e suas vidas.
“Essa jornada leva as pessoas a refletir profundamente sobre seu lugar no mundo, seus próprios limites que definem e orientam suas ações diárias. O processo de lidar com o câncer, muitas vezes, envolve uma reconexão não somente com o próprio corpo, com o lugar que se ocupa no universo, como também pode ser um momento de reflexão sobre escolhas, relacionamentos, planos e sobre a própria história”, enfatiza Ana.
Psicoterapia
É nesse ponto que a psicologia desempenha um papel crucial. Os psicólogos não apenas auxiliam na gestão das emoções e do estresse associados ao tratamento do câncer, mas também na reconstrução da autoimagem e na forma como os pacientes percebem e se relacionam com seus corpos. “A psicoterapia fornece um espaço seguro para explorar essas questões e apoiar os pacientes em sua jornada de autodescoberta e compreensão de si”, lembra a profissional.
Além disso, a rede de apoio emocional, composta por familiares, amigos e profissionais de saúde, desempenha um papel fundamental na promoção desse processo de transformação. Ela oferece a compreensão e a empatia necessárias, para que os pacientes possam explorar essas questões de maneira saudável. “Ter alguém em quem confiar, com quem conversar e que possa oferecer apoio prático, como acompanhamento em consultas médicas ou ajuda nas tarefas diárias, pode fazer toda a diferença”, afirma a docente.
Jornada de esperança
Em última análise, a mensagem central é cristalina: o câncer é uma jornada desafiadora, mas não precisa ser enfrentada de forma solitária. Apesar das particularidades vivenciadas por cada paciente, o enfrentamento do câncer não se limita apenas à batalha física, mas também envolve uma profunda transformação psicológica e emocional. A rede de apoio e os profissionais de Psicologia desempenham papéis essenciais nas estratégias de cuidados e na promoção do bem-estar ao longo desse processo.
“Em um cenário atual voltado para a saúde mental, é fundamental destacar a importância da rede de apoio emocional e promover a conscientização sobre sua relevância. Pacientes e seus entes queridos devem saber que há recursos e profissionais de Psicologia dedicados a ajudá-los a enfrentar os desafios emocionais que o câncer traz consigo. Com uma rede de apoio forte e solidária, a jornada se torna mais suportável e esperançosa,” lembra Ana Izabel Lima.