A redução drástica na população de jumentos no Brasil acende um alerta crítico entre ambientalistas, pesquisadores e comunidades rurais. Em apenas 30 anos, o país viu seu rebanho cair de 1,37 milhão para cerca de 78 mil animais — uma perda de 94%, segundo dados de FAO, IBGE e Agrostat.
A principal causa desse declínio é o abate em escala industrial, impulsionado pela demanda internacional, sobretudo da China. Entre 2018 e 2024, cerca de 248 mil jumentos foram abatidos no país, a maioria no estado da Bahia, onde funcionam os três frigoríficos autorizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) para esse tipo de atividade. A pele dos jumentos é usada na produção do ejiao, um suplemento à base de colágeno amplamente comercializado na Ásia por suas supostas propriedades medicinais e rejuvenescedoras.
Diante da urgência, entre os dias 26 e 28 de junho, Maceió (AL) sedia o 3º Workshop Internacional – Jumentos do Brasil: Futuro Sustentável, promovido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e pela ONG britânica The Donkey Sanctuary. O evento marcará o lançamento do relatório global Stolen Donkeys, Stolen Futures, além da campanha internacional Stop The Slaughter, que visa frear o abate indiscriminado.
No campo político, duas propostas legislativas tentam barrar o abate desses animais. O Projeto de Lei nº 2.387/2022 tramita no Congresso Nacional e já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados. Na Bahia, o PL nº 24.465/2022, também aprovado na CCJ da Assembleia Legislativa, aguarda votação em plenário.
A pressão brasileira acompanha uma tendência global. Em 2023, a União Africana impôs uma moratória ao abate de jumentos para exportação, medida que já é realidade em países como Quênia, Nigéria e Tanzânia. Há expectativa de que a decisão seja estendida a todo o continente africano.
A possível extinção do jumento no Brasil não é apenas uma tragédia ambiental, mas também um desastre socioeconômico silencioso. A urgência agora é por políticas públicas, fiscalização eficaz e valorização de práticas sustentáveis que garantam a preservação desse animal essencial para o equilíbrio rural.