A expressão “falso negativo” para o resultado de um teste de Covid-19 é amplamente utilizada. Entretanto, o termo não significa exatamente que haja um equívoco no resultado do exame. O infectologista Evaldo Stanislau explica o que acontece e como proceder após um teste apresentar resultado negativo para Covid-19, embora o paciente ainda apresente sintomas persistentes.
Stanislau, que atua no Hospital das Clínicas da USP e é diretor da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), afirma que o “falso negativo” está relacionado ao tempo em que o exame foi realizado no paciente.
“O que a gente encontra com alguma frequência é o teste –que chamam de falso negativo– porque ele foi coletado muito cedo ou muito tardiamente. O teste de antígeno tem um momento de detecção ideal, que é na primeira semana dos sintomas”, diz o infectologista.
Ele complementa que, quando uma pessoa começa a apresentar os sintomas, em um ou dois dias, em geral, ela já tem o teste de antígeno positivo.
“O que a gente tem observado é que, com a Ômicron, esse período da expressão do antígeno tem sido talvez um pouquinho mais curto. Então, você tem uma grande quantidade de vírus, mas a detecção é mais fugaz que o habitual”, afirma. Ou seja, o período de detecção é mais curto.
“Às vezes, mesmo entre os sete primeiros dias de sintomas a gente encontra pacientes que têm negativo no teste por antígeno. Nessa situação, a recomendação é fazer uma outra técnica [como o RT-PCR]”, complementa Stanislau.
Como proceder
O princípio do teste é detectar o vírus da Covid-19. Esse vírus pode ser detectado pela técnica de pesquisa de antígeno ou por uma técnica molecular.
“Se a gente não encontra, isso significa que o vírus não existe ou que houve algum problema no momento da coleta ou na realização do teste”, diz o infectologista.
Portanto, em caso de suspeita clínica e apresentação de sintomas, mesmo com o teste de antígeno negativo, a recomendação é repetir o procedimento em 48 horas.
Ele diz que, no caso de alguém com sintomas, “não dá para, só com um teste de antígeno [negativo], no momento atual, a gente falar que ela não tem Covid. Precisa repetir esse teste em 48 horas, porque pode acontecer de ter coletado o teste muito cedo ou muito tarde”, alerta o médico.
Dois testes deram negativo, e agora?
Com dois testes negativos, o que podemos afirmar é que neste momento a pessoa não está transmitindo. Isso porque, por princípio, quando o teste de antígeno é positivo, significa que há quantidade suficiente de vírus para ser transmitido, conforme explica Stanislau.
“Mas, para saber se pessoa teve ou não teve Covid, aí eu lanço mão, com dois antígenos negativos, de um teste de PCR, que é a técnica de biologia molecular”.
“O teste de PCR pode ficar positivo por até 17 dias e tem pacientes que chegam a 83 dias positivos”, acrescenta.
Qual o teste mais preciso na detecção da Covid-19?
Na avaliação do especialista, o teste mais preciso é o de PCR. Porém, ele tem essa característica já mencionada de poder manter o resultado positivo por muito tempo e, muitas vezes, já fora do período de contágio.
“O ideal é fazer a pesquisa com o antígeno sempre, para ver se o paciente está transmitindo e está positivo, e deixar o PCR para cobrir essas situações em que o antígeno não respondeu a nossa pergunta”, sugere o médico.
Preciso refazer o exame do antígeno para sair do isolamento?
Stanislau explica que, se o paciente quiser encurtar o isolamento entre 5 e 7 dias, a recomendação é de apenas fazer isso se realizar um novo teste e o resultado for negativo.
“Se a pessoa fizer 10 dias de isolamento, no 11º dia ela pode sair sem a necessidade de fazer outro teste”, afirma o especialista.
A recomendação do médico é para que o paciente com sintomas use máscara, evite contato com outras pessoas, procure orientação médica e faça o esquema de duas testagens sequenciais de antígenos mais o complemento do PCR.
“Essas ações são para que a gente possa excluir com bastante segurança que ela não tenha tido Covid ou que não esteja, no momento, transmitindo o vírus. Na dúvida, é preciso usar máscara e manter o isolamento até segunda ordem”, afirma Stanislau.
CNN