O planeta está vivendo um surto emocional na busca pela dopamina imediata. A afirmação é da Professora de Psiquiatria da Universidade de Stanford, Anna Lembke. Segundo ela, o excesso de informações que chega através das mídias sociais tem tornado as pessoas mais depressivas, ansiosas e também aumentam as ideações suicidas. “O vício em mídias sociais é semelhante ao vício em cocaína, álcool ou pornografia”, afirma. “As estatísticas mostram que nos Estados Unidos, as pessoas estão tão infelizes que estão morrendo antes mesmo de seus pais”.
Para se livrar do vício em mídias sociais, a psiquiatra defende suspender o uso de smartphones para uso recreativo, por pelo menos 30 dias, passar a selecionar aplicativos utilizados com mais critério, substituir o uso dos dispositivos por atividade física, banhos de gelo, meditação e oração, e ainda destaca que as empresas têm papel fundamental em oferecer aos colaboradores uma rede de apoio para o período de abstinência e superação do vício.
De acordo com Lembke, o smartphone, como é utilizado atualmente, pode ser comparado a uma seringa injetora de drogas no organismo. “As mídias sociais geram no organismo uma sensação de satisfação, geram dopamina de forma imediata e fácil e isso vicia o cérebro, bem como a cocaína, a pornografia e o álcool”, explica. “Existe uma crise mental crescente no mundo, provocada por essa facilidade de gerar dopamina. A necessidade de dopamina imediata é tão grande que existem drogas novas e mais potentes no mercado”.
Segundo ela, em seus estudos e estatísticas, os índices de depressão, ansiedade e transtornos mentais são mais altos em países com maior renda. “Quanto maior os recursos financeiros e o acesso ás novas tecnologias, maiores são os índices de adoecimento mental das populações”, diz. “Em países mais pobres, a felicidade é mais simples e as pessoas sofrem menos”.
Crise de abstinência
A psiquiatra Anna Lembke afirma que as crises de abstinência dos dispositivos eletrônicos podem ser tão severas e graves quanto a de drogas sintéticas como a cocaína. “Em média, as crises levam de duas a quatro semanas e é um período muito difícil, que precisa ser preenchido por atividades simples. As pessoas começam a sentir melhorias e depois, podem retomar o uso, mas com racionalidade, com controle total do que vai usar e lançar mão de ações simples como retirar os dispositivos do quarto de dormir, limitar o tempo de uso. Após 30 dias, a rotina fica cada vez mais motivadora”.
Ela cita que hoje em dia, existem medicações sendo utilizadas para ajudar esses pacientes a enfrentar o vício e as crises de abstinência, mas em geral, as mudanças de rotina são bem eficazes. “O exercício físico, no primeiro momento, é tóxico ao corpo, mas ao longo dos dias, a atividade começa a fazer seu corpo produzir inúmeras substâncias que regulam o funcionamento cerebral e vem realmente a sensação de prazer. Isso também vale para banhos de gelo, meditação e oração e até o jejum, pois são atividades que exigem dedicação do seu tempo”.
Trabalho e tecnologia
Anna Lembke destaca que as corporações têm um papel importante na saúde mental dos colaboradores bem como as escolas. “Nos Estados Unidos, há um movimento importante dentro das escolas, que proibiu o uso do celular, colocando-os em bolsas magnéticas que impedem receber sinais. As crianças começaram a brincar umas com as outras, aprender mais rápido e os níveis de depressão e ansiedade reduziu”
“As empresas também têm essa responsabilidade, não somente do cuidado direto, mas pensar em metas, em volumes de demandas, porque trabalho em excesso adoece. Pessoas que trabalham no fim de semana, nas férias, à noite, tem altos níveis de estresse, ficam doentes e isso está diretamente ligado ao capitalismo desenfreado”.
Texto de Viviane Taguchi
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