A história é formada por passagens de grande significado que merecem uma análise mais profunda. No caso da história brasileira, uma dessas passagens é o movimento Diretas Já, criado em torno de uma ideia: Dar ao povo o direito de votar pra presidente. Esse movimento está fazendo 40 anos. Desde as primeiras articulações, em 1983, até os mega comícios no ano seguinte, era o Brasil unido na busca pela democracia.
O movimento das Diretas Já é o tema da nova série especial do Jornal da Band.
O advogado Nelson Pompeu trabalhou a vida toda no centro de São Paulo. A filha dele, Nelice, é professora. Hoje, a Praça da Sé, marco zero da cidade, é o retrato de um pedaço da cidade mal tratado e inseguro. Mas, para Nelson, a praça traz outras memórias.
A Sé é o centro geográfico de São Paulo. E, no dia 25 de janeiro de 1984 de todas as direções chegavam pessoas para participar de um comício e exigir Diretas Já. O povo sofria com a inflação, desemprego e vinte anos de ditadura militar. Queria mudanças.
“Havia uma vontade muito grande do povo que houvesse a mudança e a redemocratização do país com eleições diretas para presidente”, destaca Nelson.
Há 40 anos, pai e filha foram para a Praça da Sé reivindicar um direito simples: queriam votar para presidente. Nelson tinha 32 anos, Nelice, 11.
Eu até me arrepio e me emociono”, afima Nelice. ”Enquanto eu estiver viva, mesmo se estiver velhinha, eu volto para a Praça da Sé para defender a democracia.”
Comício histórico
O ex-deputado Almino Afonso revela que a ideia de um comício em São Paulo no dia do aniversário da cidade foi sugestão de um prefeito que participava de uma reunião organizada pelo governador de São Paulo, Franco Montoro, em busca de apoio para as diretas.
“Eu falei: por que não fazermos um comício pelas Diretas logo mais estamos no 25 de janeiro. É um data boa. São Paulo se levantando. O Montoro pegou a ideia na hora”, diz Almino.
Os organizadores calcularam que na praça estavam 300 mil pessoas. Políticos com projetos diferentes estavam juntos no mesmo palanque.
Da Sé, uma caravana pelas Diretas Já cruzou o país. Foram realizados 32 comícios em quatro meses em quase todas capitais do país.
O repórter Ricardo Kotscho do jornal Folha de São Paulo, que apoiou as diretas, seguiu a caravana e foi testemunha de quase todos comícios. Nas cidades menores faltava estrutura, mas sobrava entusiasmo.
“Chegava gente de carroça, a cavalo, vindos da roça”, lembra Kotscho. “Foi um movimento que na o teve oposição Ninguém foi pra rua defender a ditadura.”
Em Minas Gerais, o comício das diretas aconteceu dia 24 de fevereiro a historiadora Heloisa Starling era a estudante Heloisa e fez parte da história.
“Tinha um mar de gente. Todos muito felizes.com uma camisa amarela girando como um, girassol. Todo mundo na rua de blusa amarela”, lembra Heloísa.
‘Senhor Diretas’
Mas ninguém esteve em tantos comícios como o comandante da caravana, Ulisses Guimaraes. Naqueles meses ele virou o Senhor Diretas.
“Ulisses transmitia esperança para as pessoas e as pessoas transmitiam esperança para ele”, lembra Kotscho.
O jornalista Oscar Pilagalo destaca o otimismo na época. “Era uma correlação de forças que era de cima para baixo, né, dos líderes falando para as massas, mas era em sentido contrário também, eram as massas pressionando os líderes para que levasse isso adiante, “vamos ver o que acontece”.
“Você tinha a dimensão de que a democracia era possível”, reforça Heloisa Starling. “Porque as posições diferentes eram capazes de se organizar em torno de algo que era comum a todos brasileiros.”
- Produção: Paula Marolo e Bia Moço
- Pesquisa: Sofia Alves Araújo
- Edição: Claudia Castro e Alziro Oliveira
- Coordenação: Sergio Gabriel
- Direção de núcleo: Fernando Mattar
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