O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou, nesta quarta-feira (19), a Barragem de Oiticica, localizada em Jucurutu, no Rio Grande do Norte, uma obra essencial para o Projeto de Integração do Rio São Francisco. Iniciado em 2013, o projeto recebeu um total de R$ 765 milhões de repasses federais, sendo R$ 163,1 milhões investidos durante a atual gestão, através do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Durante a cerimônia, Lula lembrou a importância histórica da transposição do Rio São Francisco desde o período imperial, quando o projeto começou a ser discutido ainda no reinado de Dom Pedro II.
“A seca é um fenômeno da natureza, ela é uma coisa feita por Deus. Acontece que a gente ver pessoas ou animais morrerem por conta da seca já não é mais de Deus, é por conta da irresponsabilidade das pessoas que governaram esse país durante tantos e tantos anos. Porque tem solução”, afirmou o presidente.
Em seu discurso, o presidente destacou que os primeiros canais para a transposição começaram a ser abertos em 2007, com o objetivo de “salvar do sofrimento 12 milhões de nordestinos que moram no semiárido desse país”. Ele também ressaltou a importância da obra para a população do sertão, ressaltando que estava agora “inaugurando um dos últimos trechos e uma das últimas obras da transposição das águas do Rio São Francisco”.
Lula se referiu ao projeto como um feito que, segundo ele, foi realizado por um “metalúrgico de São Bernardo do Campo [SP]”, em contraste com a falta de ação de líderes econômicos, fazendeiros, advogados, sociólogos e professores que, segundo ele, não haviam tomado a iniciativa. “Aquilo que a elite econômica brasileira não quis fazer, que os fazendeiros não fizeram, que os advogados que governaram esse país não fizeram. Aquilo que os sociólogos não fizeram, que os professores que governaram o país não fizeram, um metalúrgico de São Bernardo do Campo [SP] fez, essa obra”, destacou.
Relembrando sua infância em Pernambuco, Lula relatou a experiência difícil de viver no semiárido. “Eu fiz isso porque, com 7 anos, eu já ia para a beira do açude encher um pote para levar água para casa para beber. E somente quem viveu isso, somente quem viu a sua mãe sair de Caetés [PE], com oito filhos agarrados no rabo da saia para não morrer de fome, e ir para São Paulo, é que entende o problema da seca no sertão nordestino”, contou.
A barragem faz parte do Complexo Hidrossocial Oiticica, que inclui outros projetos como agrovilas e o reassentamento da comunidade Nova Barra de Santana. Com uma capacidade ampliada de 75,56 milhões para 742 milhões de metros cúbicos, a nova estrutura beneficiará diretamente 22 municípios e cerca de 294 mil pessoas. Essa intervenção faz parte do programa Água para Todos, destinado a levar mais segurança hídrica à região.
Lula também fez um apelo aos gestores locais para que continuem as obras para garantir que a água chegue efetivamente à população. “Isso é o começo de uma solução”, afirmou. Ele ressaltou que a barragem não resolverá todos os problemas da região e que os prefeitos e governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, têm “muito trabalho a fazer”. O presidente destacou a necessidade de levar a água até as casas das pessoas e garantir que ela seja tratada para consumo humano de qualidade.
O Seridó, região onde a barragem foi construída, abrange áreas do Rio Grande do Norte e Paraíba e é marcada pelo clima semiárido, com longos períodos de seca. A economia local é voltada principalmente para a agropecuária, e o turismo ecológico e cultural tem ganhado destaque nos últimos anos, com o reconhecimento do Geoparque Seridó pela Unesco como território de relevância mundial.
Assinatura de contrato para nova adutora
Além da inauguração da barragem, durante a cerimônia, foi assinada a autorização para a construção da adutora do Agreste Potiguar, que também faz parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Este novo sistema de abastecimento atenderá 38 municípios da região Agreste do Rio Grande do Norte e contará com um investimento de R$ 448,46 milhões. A obra, que incluirá a construção de uma rede de 170,9 quilômetros, tem prazo de execução de cinco anos e visa garantir maior segurança hídrica para a população local.