A superlotação no Hospital Walfredo Gurgel, maior unidade de urgência e emergência do Rio Grande do Norte, continua a ser um problema recorrente, afetando a qualidade do atendimento e a capacidade de acolhimento de pacientes. Nesta quinta-feira (14), o hospital enfrentou uma situação crítica: no setor ortopédico, 50 pacientes estavam sendo atendidos nos corredores, devido à falta de leitos. Segundo a direção da unidade, a maior parte desses pacientes não deveria estar no hospital, uma vez que seus casos, como fraturas simples, poderiam ser tratados em unidades de saúde municipais ou UPAs.
De acordo com o levantamento feito pela gestão do hospital, dos 117 pacientes internados no setor de ortopedia, mais de 50 são de traumas considerados de menor complexidade, como fraturas em dedos e mãos. Esses pacientes, conforme a direção, poderiam ser atendidos em outras unidades de saúde, sem a necessidade de ocupar leitos no Walfredo Gurgel, o que agravaria ainda mais a superlotação na unidade.
Além da superlotação nos corredores, o hospital também enfrenta dificuldades em outras áreas, como no centro cirúrgico. Na manhã de quinta-feira, das seis salas de cirurgia do hospital, duas estavam bloqueadas, pois estavam ocupadas com pacientes em recuperação. Esse quadro limita a capacidade do hospital de realizar novos procedimentos, contribuindo para o aumento das filas e a demora no atendimento.
A superlotação também tem reflexos na atuação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Quando não há leitos disponíveis no hospital, ambulâncias ficam paradas em frente à unidade, aguardando espaço para transferir pacientes. Na tarde de quinta-feira, 15 ambulâncias estavam estacionadas nos arredores do hospital, aguardando para realizar o transporte de pacientes, o que limita a capacidade do SAMU de atender a novas ocorrências.
A direção do hospital reconhece a gravidade da situação e aponta que o problema é histórico e está relacionado à sobrecarga do sistema de saúde, com muitos casos simples sendo encaminhados para o Walfredo Gurgel. Segundo o diretor-geral da unidade, a solução para o problema passaria por uma reorganização do fluxo de pacientes, com a conscientização da população sobre o tipo de atendimento adequado para cada caso, além do fortalecimento das unidades municipais de saúde, que poderiam absorver os atendimentos de menor complexidade.
“Muitas vezes a gente não consegue operar rapidamente ou dar um giro de leito para que um paciente grave chegue a uma UTI por causa dos pacientes que seguem acessando e ocupando um grande volume tanto nos corredores como nas enfermarias. Tem pessoas que deram entrada no Walfredo Gurgel e que estão internadas e ocupam um leito por causa de um polegar.”, afirma Geraldo Neto, diretor geral do Walfredo Gurgel.
O hospital segue em operação com um sistema de sobrecarga constante, e a superlotação continua a ser um desafio diário para os profissionais de saúde, que lidam com a escassez de recursos e a alta demanda de atendimento. A situação reforça a necessidade de um planejamento mais eficaz na gestão da rede pública de saúde, para que unidades como o Walfredo Gurgel possam oferecer atendimento de qualidade, sem comprometer a saúde e o bem-estar dos pacientes.
“A população precisa entender, principalmente, da capital e região metropolitana, que esse perfil de paciente não deve ter acesso ao Walfredo Gurgel, porque aqui é um hospital de altíssima complexidade que nós devemos ter condições e estrutura para está recebendo pacientes extremamente graves, aqueles pacientes que estão entre a vida e a morte.”, disse em entrevista à Band RN.
A falta de leitos e a sobrecarga nas unidades de saúde pública do estado geram um impacto no atendimento de urgência, dificultando o atendimento adequado a quem precisa de cuidados médicos imediatos. A situação do Walfredo Gurgel evidencia a necessidade urgente de soluções estruturais e de gestão para garantir um atendimento mais eficiente à população potiguar.