Um estudo do Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) aponta que 66,3% dos alunos brasileiros entre 15 e 16 anos nunca leram mais de 10 páginas de um livro. Ainda de acordo com a pesquisa, apenas 9,5% leu algum material com mais de 100 páginas.
A análise é fruto de microdados extraídos do exame internacional Pisa – 2018 e, apesar dos indicadores negativos, mostra que os estudantes veem a leitura de forma positiva. Mais de 40% dos alunos afirmam que gostam de falar sobre livros, média superior à registrada pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Segundo a educadora Priscila Griner, diretora da Casa Escola, o baixo interesse pela leitura é reflexo de um contexto social amplo. “É sabido que as telas assumiram um papel relevante na rotina dos adultos e, até mesmo, das crianças, substituindo diferentes costumes, que promoviam a interação pais e filhos, pelas mídias digitais”, diz.
Para se ter uma ideia, com menos de 10% de jovens leitores, o Brasil está atrás de outros países da América Latina, como Chile (64%), Argentina (25,4%) e Colômbia (25,8%). Em exemplos de nações reconhecidamente bem-sucedidas na educação, como na Finlândia, o patamar chega a 72,8%.
“É importante dizer que o prazer pela leitura é uma construção que perpassa pela disponibilidade do adulto de contar histórias. É justamente isso que forma a memória afetiva da leitura. Então, se não desenvolvermos este prazer desde a infância, certamente teremos pouquíssimos jovens leitores”, destaca Priscila.
“Na Casa Escola, por exemplo, temos diversas ações neste sentido. E tudo começa com a professora de sala de aula junto com a biblioteca e suas responsáveis, que tornam este espaço um local dinâmico, vivo. Nossas crianças são convidadas a serem protagonistas desse processo, pois compartilham significados, os quais são acolhidos e validados. Aqui, contamos e encenamos histórias, discutimos e abrimos as mentes”, completa.
Escrita como aliada na formação de leitores
Iniciativas de incentivo à leitura não são necessariamente uma novidade no meio pedagógico e, em um cenário de baixo interesse pelos livros e uso excessivo de telas por crianças, cada vez mais cedo, o desafio aumenta. Mas um projeto inovador, da Casa Escola, vai além da utilização de conteúdo literário na rotina escolar.
Os alunos do Ensino Fundamental 1 e 2 realizam produções textuais que compõem livros, lançados ao final do ano letivo. O objetivo é ir além do estímulo pontual e propor um contato frequente com a escrita, possibilitando, assim, o desenvolvimento de habilidades com o objetivo de tornar o estudante um escritor competente.
“Essa é uma atividade importantíssima para o desenvolvimento sociocognitivo e emocional dos nossos alunos, uma vez que eles têm a oportunidade de ficcionalizar suas inquietações e exercitam o olhar para o outro. Nossa maior realização é perceber o aluno vencendo a barreira do individual”, explica a professora de Língua Portuguesa, Thayane Morais.