Presente no Nordeste, a macambira é uma planta que fornece ao solo nutrientes contra a erosão e serve de alimento para os animais. Sua força permite que ela nasça nas terras mais áridas. A planta é o símbolo da Política de Superação do Analfabetismo do Rio Grande do Norte (PSA), pois, assim como a macambira, a alfabetização está brotando em todo o estado, graças à garantia do direito de ler e escrever, para jovens e adultos.
A alfabetização de adultos do Governo do Rio Grande do Norte alcançou 120 cidades. Formando 687 turmas, são mais de 10 mil estudantes que tem a oportunidade de encontrar, ou reencontrar, o caminho da escola. O projeto curricular é formado pela imensa diversidade de saberes e experiências que a vida propõe para cada sujeito: trabalhadores urbanos e rurais, pessoas livres ou privadas de liberdade, chefes de família, indígenas, quilombolas, pescadores, marisqueiras, artesãos, desempregados. “Os currículos dos projetos pedagógicos, em cada DIREC, respeitam a diversidade e a inclusão como princípios fundamentais, articulando alfabetização, cultura e corporeidade como campos formativos articulados aos saberes próprios dos alfabetizandos”, destaca a secretária adjunta de Educação do RN, professora Márcia Gurgel.
Idealizado para ter suas primeiras turmas já formadas em 2020, a PSA, assim como toda a educação pública, sofreu com as restrições da pandemia, retardando o início de suas atividades, que, pelo caráter da ação, deveriam ser presenciais. Coordenado pela Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC), por meio da Subcoordenadoria de Jovens e Adultos (SUEJA), o programa começou a alfabetizar suas turmas em outubro de 2021.
Angicos foi a cidade escolhida para deflagrar as atividades. O cenário não poderia ser outro, uma vez que o município foi sede da exitosa experiência do educador Paulo Freire conhecida como as 40 Horas de Angicos, cruzada pela alfabetização que ensinava a ler e escrever com palavras presentes nas experiências de vida dos estudantes. Hoje, em todas as 16 Diretorias Regionais de Educação e Cultura (DIREC), existem turmas de alfabetização.
“A metodologia do programa é freireana, pois ela parte da leitura do mundo e do diálogo livre dos sujeitos, das histórias de vida e das identidades, para a leitura, escrita e letramento consciente tendo como base as palavras transformadoras”, destaca a professora Liz Araújo, coordenadora da SUEJA e do PSA. A educadora ainda aponta dois outros aspectos que complementam este processo de aprendizagem, as práticas culturais e as corporais. “Esses três são os pilares da educação popular que é feita no RN. Isso gera conhecimento, fazendo a esperança voltar a brotar no coração de cada estudante”, finaliza Liz.
O Governo do RN, por meio de editais públicos, realizou a contratação de bolsistas e mediadores para as três áreas: letramento, práticas culturais e práticas corporais. O financiamento do PSA tem como fonte principal o Programa Nova Escola Potiguar (PNEP), que é responsável por investimentos da ordem de R$ 9 milhões e garantem a contratação dos 900 bolsistas mediadores e bolsistas coordenadores responsáveis pelas turmas de alfabetização, bem como a compra de itens de material de consumo para professores e estudantes, como bolsas, cadernos, lápis, borrachas entre outros itens escolares.
“A alfabetização tem o poder de transformar tudo que está ao seu redor. Além de permitir que jovens e adultos tenham acesso à educação, com a contratação de educadores, por todo o RN, estamos gerando emprego e renda para centenas de trabalhadores da educação, o que representa um impacto positivo de R$ 3,8 milhões, na economia dos municípios, durante o processo de alfabetização”, frisa o professor Getúlio Marques, secretário de Estado da Educação do RN.
Além disso, todo o material didático é adquirido no comércio dos municípios, pelas DIRECs, descentralizando recursos e movimentando a economia local. “Isso mostra a importância de uma política social bem planejada, marca da gestão que tem uma professora como liderança, a governadora Fátima Bezerra”, conclui Marques.
Os resultados são expressos na alegria de quem, depois de muitos anos, descobre o prazer de ler e assinar o próprio nome. Formada em uma das primeiras turmas do programa, a agricultora Maria das Graças Cabral comemora a conquista do conhecimento. “Eu gostei muito, foram meses de muito conhecimento. A palavra que me representa tudo isso que vivemos é alfabetizada! Uma verdadeira vitória!”, vibra Dona Graça, como é chamada pelos colegas de turma. Sua formatura foi neste ano, em Angicos.
Uma das preocupações da coordenação do programa é que, após o ciclo de alfabetização, os estudantes permaneçam no trilho do conhecimento. Todos são orientados a ingressarem nas turmas do 1º segmento do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos, disponível tanto nas redes municipais, quanto na rede estadual de ensino. “Visamos garantir a continuidade dos estudos dos alfabetizados e das alfabetizadas. Cada DIREC realiza um mapeamento dessas vagas e encaminha aos estudantes, permitindo o direito à continuidade dos estudos”, explica Liz Araújo.
Para que todo esse processo funcione o planejamento estratégico da SEEC é fortalecido com a efetiva participação de agentes públicos conhecidos em suas áreas, como a Fundação José Augusto, parceira na construção dos perfis dos bolsistas que atuam no eixo cultural do PSA, a Subsecretaria do Esporte e do Lazer (SEL), presente no acompanhamento das atividades corporais e físicas, o Comitê Gestor de Alfabetização do RN, responsável por discutir e orientar as metodologias usadas no programa, às 16 DIRECs, espalhadas por todo o RN, que operacionalizam as turmas, motivando equipes e fazendo o acompanhamento das atividades de sala de aula, e as secretarias municipais de educação, que contribuem na oferta de vagas para a EJA.
Os jovens, adultos e idosos que tenham interesse em se alfabetizar devem procurar a escola mais próxima que oferte EJA ou comparecer na sede da DIREC de sua região. A matrícula é feita durante todo o ano letivo. O estudante preencherá a matrícula e será encaminhado para a turma de alfabetização mais próxima. A coordenação do programa visa ampliar para os 167 municípios do RN a presença das turmas de alfabetização, chegando a este posto em 2023, e a continuidade desta ação por um ciclo de mais quatro anos.