Lançada nesta terça-feira (26/03) pelo Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz, a Estratégia Fiocruz para Terapias Avançadas tem o objetivo de beneficiar pacientes com doenças oncológicas, infecciosas e genéticas atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Como parte da Estratégia e em parceria com o Ministério da Saúde, a fundação assinou um acordo de colaboração com a organização norte-americana sem fins lucrativos Caring Cross, que prevê a transferência de tecnologia, pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), para a produção de células CAR-T e vetores lentivirais.
Com isso, a Fiocruz será a detentora dessa tecnologia no Brasil e na América Latina, com a produção no país reduzindo drasticamente os custos e ampliando o acesso da população às terapias genéticas. A iniciativa representa também um avanço na parceria com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), que realizará os ensaios clínicos para cânceres hematológicos.
As terapias com células CAR-T representam um tratamento revolucionário, utilizando as próprias células imunológicas do corpo para atingir e destruir as células infectadas. A fase inicial do acordo terá como foco terapias com células CAR-T para leucemia e linfoma, contando com versões aprimoradas de produtos que têm sido usados com sucesso no tratamento de pacientes em diferentes países. A colaboração também irá desenvolver um produto terapêutico para o HIV, atualmente em fase de ensaios clínicos nos EUA, concebido para o tratamento e potencial cura da infecção pelo vírus. Também há a expectativa do desenvolvimento de novos projetos com diferentes parceiros para outras patologias.
Para se ter uma ideia do impacto que esta nova tecnologia pode causar, estima-se que foram registrados 20 milhões de novos casos de câncer e 10 milhões de mortes por câncer no mundo todo no ano passado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Tratamento eficaz e economia para o SUS
O potencial transformador dos tratamentos com células CAR-T é significativamente prejudicado por seus altos custos, frequentemente superiores a US$ 350 mil (cerca de R$ 2 milhões) a dose. O preço torna estas terapias que salvam vidas inacessíveis a muitos pacientes de regiões de baixa e média rendas, criando uma grande disparidade no acesso a este tratamento inovador. Com a produção local, o tratamento poderia estar disponível gratuitamente para a população e o custo para o SUS se reduziria a 10% do valor atualmente praticado na Europa e EUA, passando para US$ 35 mil (R$ 173 mil). Foi o que destacou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante o lançamento na estratégia.
“É um dia especial não apenas por ser uma terapia importantíssima e inovadora, não apenas pela redução do custo dos tratamentos hoje disponíveis, mas significa multiplicar por 10 vezes o acesso a essa terapia”, afirmou.
Segundo a ministra, o Governo Federal tem incentivado que projetos que têm a ciência a favor da vida e do cuidado possam ser implementados, fortalecendo o SUS.
A ministra Nísia Trindade afirmou que entre o ano passado e este ano, R$ 300 milhões do Novo PAC, o Programa De Aceleração do Crescimento, foram investidos para o desenvolvimento dessa terapia.
“Isso representa uma grande economia para o SUS. Essa terapia costuma ser usada na terceira linha de tratamento, quando já houve recidiva do câncer após a primeira e a segunda. Falamos aí de cerca de dois mil pacientes, num tratamento cujo alto custo dificulta o acesso. Com a produção local, seria a diferença entre gastar cerca de R$ 3,4 bilhões ou R$ 340 milhões com estas duas mil pessoas”, destacou o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger. “Mais do que o cálculo em dinheiro, é um tratamento melhor, mais eficaz”.
Arte: Rodrigo Carvalho (CCS/Fiocruz)
Transferência de tecnologia
Com a transferência de tecnologia, Bio-Manguinhos/Fiocruz produzirá localmente os vetores lentivirais a serem desenvolvidos para a terapia com células CAR-T, além de ser o certificador para postos avançados de implementação desta terapia em unidades de saúde pelo Brasil. “Estamos felizes com a parceria com a Caring Cross, que tem uma profunda experiência nas tecnologias utilizadas para a produção da terapia com as células CAR-T. Essa associação representa um modelo de negociação que permite que um produto com esse conteúdo tecnológico, um produto que hoje é objeto de domínio das grandes farmacêuticas em escala mundial, seja acessível á população brasileira”, declarou o presidente da Fiocruz, Mario Moreira.
“Essa é uma das revoluções que a medicina atravessa. Assim como foi a vacina, como foi o antibiótico. Hoje estamos diante de uma nova revolução, que se coloca a favor da população”, disse o presidente da Fiocruz
O diretor executivo da Caring Cross, Boro Dropulić, falou sobre o acordo. “Nossa colaboração com a Fiocruz é um passo significativo em direção a tornar as terapias com células CAR-T mais acessíveis no Brasil e na América Latina”, afirmou. “Ao compartir nosso conhecimento e expertise, esta colaboração estabelecerá capacidade de produção local de nossa plataforma inovadora de células CAR-T. Quando integrada com o ponto de fabricação local, essa abordagem nos permitirá reduzir drasticamente os custos de produção e permitir o acesso a essas terapias por uma fração do custo comparado a EUA e Europa”, disse. “Esperamos que esta colaboração não apenas torne esses tratamentos mais acessíveis como sirva como um modelo global para melhorar o acesso a terapias médicas avançadas”.
Parceria com o Inca: ensaios clínicos
Em parceria com a Fiocruz, o Inca vai dar início à condução dos ensaios clínicos para cânceres hematológicos, a partir de um Memorando de Entendimento para cooperação na área de oncologia, assinado ano passado. O processo contará com dois contêineres customizados, que funcionarão como estações de trabalho adequadas à produção de terapias genéticas e instalados próximos aos locais de tratamento. Um dos containers ficará no campus de Manguinhos da Fiocruz e o outro, nas dependências de uma das unidades do Inca, ambos no Rio de Janeiro.
Arte: Rodrigo Carvalho (CCS/Fiocruz)
O acordo estabelece que o Inca cuidará de seus pacientes e acolherá, também, aqueles indicados por outras instituições. Nas fases avançadas da pesquisa, há ainda a possibilidade de preparar as células no Inca e tratar os pacientes em outras unidades de saúde. “Estamos orgulhosos de liderar avanços no tratamento do câncer com a tecnologia CAR-T. Esse pioneirismo do Inca reflete nosso compromisso em oferecer opções inovadoras e promissoras para nossos pacientes, visando resultados mais eficazes e uma esperança renovada no controle da doença”, reforçou o diretor-geral do Inca, Roberto Gil.
Fiocruz
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é a maior instituição de pesquisa biomédica da América Latina, que também produz vacinas e medicamentos para abastecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Vinculada ao Ministério da Saúde, foi criada em 25 de maio de 1900 para fabricar inicialmente soros e vacinas contra a peste bubônica. Desde então, a instituição experimentou uma intensa trajetória, que se confunde com o desenvolvimento da saúde pública no Brasil.
Atualmente, a Fiocruz está instalada em 10 estados, além do Distrito Federal, e conta com um escritório em Maputo, capital de Moçambique, na África. Além dos institutos sediados no Rio de Janeiro, mantém unidades nas regiões Nordeste, Norte, Sudeste e Sul do Brasil, e escritórios no Ceará, Mato Grosso do Sul, Piauí e Rondônia. Ao todo, são 16 unidades técnico-científicas, voltadas para ensino, pesquisa, inovação, assistência, desenvolvimento tecnológico e extensão no âmbito da saúde. Para mais informações, acesse https://agencia.fiocruz.br/.
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) é a unidade da Fiocruz responsável por pesquisa, inovação, desenvolvimento tecnológico e produção de vacinas, kits diagnósticos e biofarmacêuticos destinados a atender as demandas da saúde pública nacional como uma prioridade.
Inca
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) é uma instituição brasileira dedicada a pesquisa, ensino, prevenção e tratamento do câncer. Fundado em 1937, desempenha papel crucial no controle à doença, oferecendo assistência médica de qualidade, promovendo ações educativas e desenvolvendo estudos científicos para avançar no entendimento e tratamento do câncer no contexto brasileiro.
Como referência nacional, o Instituto contribui significativamente para a formulação de políticas públicas de saúde e a disseminação de informações que visam melhorar a prevenção, a detecção precoce e o manejo eficiente do câncer no país.
Agência Gov, com informações da Agência Fiocruz de Notícias