A catástrofe climática que atinge o Rio Grande do Sul já é considerada a pior da história do estado. De acordo com os últimos dados da Confederação Nacional de Municípios são 90 mortos, 361 feridos, 470 desaparecidos, 48 mil desabrigados, 283,7 mil desalojados e 1,4 milhão de gaúchos afetados.
Para os especialistas, a tragédia é uma junção de vários fatores, desde fatores climáticos a motivos ligados às decisões políticas, além de aspectos históricos. Lutiane Almeida, especialista em Desastres do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que o evento climático é um evento extremo que não acontece com frequência – o último evento semelhante aconteceu em 1941 – e é fruto da atuação das massas de ar úmidas vindas da Amazônia e se juntam a massas frias vindas da Antártica justamente no Rio Grande do Sul.
“Junte-se a isso a atuação do El Niño – fenômeno natural que aumenta a precipitação em boa parte do Brasil – e as mudanças climáticas induzidas pela degradação ambiental realizada desde a revolução industrial. Outro aspecto que explica a catástrofe do Rio Grande do Sul é a ocupação histórica da maioria das cidades gaúchas que se deu em planícies de inundação.”, acrescenta.
A planície de inundação é uma área naturalmente inundada quando os rios extravasam suas águas além do seu curso natural nos grandes episódios de chuva. As planícies de inundação são áreas que impõem limitações à ocupação urbana, mas permite que se ocupe com agricultura irrigada, como se faz no vale do rio Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte.
“Um outro aspecto que explica a catástrofe é que o governo do Rio Grande do Sul, com o apoio da maioria de seus deputados, realizou nos últimos anos uma grande flexibilização da legislação ambiental no estado, permitindo mais desmatamento e ocupação de áreas de risco de inundação.”, explica.
O especialista explica ainda que o evento extremo tenha acumulado mais de 800mm de chuva em três dias em vários municípios gaúchos e a própria forma da rede hidrográfica do estado drene suas águas para o lago Guaíba na Região Metropolitana de Porto Alegre, algumas ações poderiam ter sido implantadas para mitigar o impacto das enchentes.
“Algumas falhas importantes de decisão, a falta de vontade política e até a corrupção ampliaram as consequências da catástrofe. Pensar preventivamente ainda é um grande desafio para a cultura política no Brasil. Planos de redução de risco, mapeamento de risco, cartas geotécnicas e de aptidão já são realizados em vários municípios brasileiros. Essas ferramentas ajudam os gestores públicos a tomar decisões de prevenção e mitigação dos desastres.”, averba.
Para Lutiane, é necessário fazer um ordenamento territorial adaptado às dinâmicas naturais que têm sido ampliadas com as mudanças climáticas. Pensar em medidas estruturais (diques, comportas, barragens…) é importante para redução de riscos, mas também é necessário que se utilize a própria Natureza nesse processo.
“Do ponto de vista da emergência é fundamental que o Estado e os municípios tenham um plano de contingência que integre as várias secretarias de governo para atuar na preparação para o desastre com a organização, pontos de abrigo, rotas de fuga, atuação do SAMU, do corpo de bombeiros, entre outras medidas.”, afirma.
Em 2015, o governo federal solicitou um relatório para compreender a previsão das consequências das mudanças climáticas no Brasil. No relatório, foram previstos eventos extremos no estado gaúcho com o aumento das chuvas no Sul. O relatório foi intitulado “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima”. Infelizmente, o relatório foi engavetado por ter sido considerado “alarmista”.
Para o especialista da UFRN, uma catástrofe como essa é um marco na história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Os impactos levarão muito tempo para serem contabilizados juntamente com o impacto social e econômico, visto que a previsão é que as águas levem um mês para baixar.
“As perdas de vidas humanas e de animais domésticos são incalculáveis. O impacto psicológico nas pessoas envolvidas também é algo intangível materialmente falando, e deve perdurar por anos ou décadas. Mas podemos dizer que as perdas econômicas envolvem danos e prejuízos individuais, coletivos, às empresas (tanto urbanas quanto rurais) e ao Estado e municípios. A magnitude dessa catástrofe, ouso dizer, se compara ao que aconteceu em Nova Orleans no Estados Unidos, com o furacão Katrina em 2005. Os impactos perdurarão por muito tempo.”, finaliza.
Ola…. Irresponsável essa publicação… Dizer que poderia ter sido evitado… Cultura da culpabilização do povo latino. Pergunte a esse “acadêmico” quais os desastres naturais do Estado do RGN e quais as medidas preventivas oficiais que o governo aplica, quais as politicas públicas do Estado que visão PREVENIR eventos dessa natureza. Estamos fartos de opiniões acadêmicas de sofá, do alto de suas titulações, no conforto de suas salas e na segurança de seus concursos universitários, vivem num mundo de Sofia, sofrendo por que suas idéias não serem aplicadas além muro dos campus universitários. Aplique suas ideias na sua universidade, na sua cidade, no seu Estado, e depois seguimos falando de transformações de gestão pública…