A criação em cativeiro de organismos como peixes e camarão é uma realidade no RN, o que garante ao Estado o posto de maior produtor de camarão do país. A variação da produção, portanto, tem implicações regionais no setor produtivo, com impactos sociais e econômicos diretos. Cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte depositaram, em junho, pedido de patente a partir do desenvolvimento de um processo de elaboração de uma escala de cores para avaliação rápida da qualidade da água de cultivo de organismos aquáticos em sistema de bioflocos.
Esse sistema é uma das diversas tecnologias utilizadas para aumentar a produtividade e tem como base o estímulo do crescimento de micro-organismos que, na forma de flocos microbianos, além de ajudar a controlar a qualidade da água, ainda servem de alimento para os organismos cultivados. A técnica foca no cultivo de mais camarões, por exemplo, em menores áreas – implicando em uma maior densidade de estocagem.
“A técnica permite o cultivo em altas densidades, além de reduzir drasticamente a necessidade de trocas de água, contribuindo para uma maior sustentabilidade. No entanto, ela demanda um controle muito estrito das condições da qualidade da água pelo acompanhamento de vários parâmetros com o uso de equipamentos caros e que necessitam de conhecimento técnico. Pela observação de que a cor dos bioflocos muda ao longo do ciclo de cultivo, surgiu a ideia de testar se essa cor poderia indicar a qualidade da água, o que foi confirmado na nossa pesquisa”, explica André Megali Amado, coordenador do grupo que realizou a pesquisa.
Um desafio da abordagem é sempre quantificar a cor dos bioflocos, uma vez que essa é uma variável qualitativa. Amado explica que a patente descreve justamente a solução encontrada e o processo de criação de uma escala de cores para avaliação rápida e simples, que será aplicada para testar a qualidade da água de tanques de cultivo de organismos aquáticos produzidos com a tecnologia de bioflocos.
O docente foi o responsável pela orientação do trabalho de conclusão que gerou o pedido de patenteamento, estudo defendido em 2018 e vinculado ao curso de Engenharia de Aquicultura, do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN. Otávio Augusto Pimentel é aluno participante, tendo integrado todas as fases da pesquisa, desde a concepção do projeto até sua execução, um trabalho que avaliou amostras de 15 tanques de cultivo de camarão marinho que utilizam a tecnologia de bioflocos em seis fazendas no estado do Rio Grande do Norte.
“A comparação da coloração do material, esses flocos microbianos, na água dos tanques de produção, com variações de tons esverdeados a amarronzados, permite estimar se parâmetros importantes de qualidade da água se encontram nos níveis adequados para o desenvolvimento dos organismos ou se alguma intervenção se faz necessária. São exemplos desses parâmetros os sólidos em suspensão e a concentração de nutrientes como carbono, nitrogênio e fósforo na forma particulada”, lista Otávio Pimentel.
Hoje doutorando na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), no estado do Rio Grande do Sul, ele ressalta que o invento foi pensado para ser aplicado por produtores de organismos aquáticos, que passam a ter a possibilidade de avaliação rápida e de baixo custo de variáveis de qualidade de água que precisam ser analisadas e manejadas, o que é de extrema importância para o bom funcionamento desses sistemas de cultivo. O destaque é que o processo pode ser aplicado para o desenvolvimento de kits comerciais de baixo custo para produtores.
“Qualquer empresa interessada pode adquirir os direitos de uso desse processo e desenvolver kits comerciais. Para se gerar um produto, um kit de análise, fazem-se necessárias medições e calibrações aos tipos de cultivos alvo”, esclarece Ng Haig They, o terceiro inventor envolvido. O trabalho gerou, além da patente, um artigo publicado na revista Aquaculture Research e um artigo especificamente sobre a escala de cores, no momento em revisão em um periódico científico. A criação do dispositivo está vinculada ao grupo de pesquisa do Laboratório de Limnologia, do Departamento de Oceanografia e Limnologia, do Centro de Biociências, grupo coordenado pelo professor André Amado.
Vitrine Tecnológica
A UFRN mantém uma vitrine tecnológica com todos os pedidos de patentes e as concessões já realizadas, bem como com os programas de computador que receberam registro do INPI. A lista está disponível para acesso e consulta no site da Agência de Inovação (AGIR), mesmo local em que os interessados obtêm informações a respeito do processo de licenciamento.
Dentro da Universidade, a Agência é a unidade responsável pela proteção e gestão dos ativos de propriedade intelectual, como patentes e programas de computador. As notificações de invenção, passo inicial de todo o processo, são feitas por meio do Sigaa, na aba “Pesquisa”. A equipe da unidade oferece suporte para análise preliminar do pedido, auxilia na escrita do depósito, indica necessidade de possíveis alterações e realiza os trâmites burocráticos, como pagamentos das taxas.