Em depoimento à CPI da Pandemia, em sessão desta quinta-feira (27) o diretor do Instituto Butantan declarou ter ofertado ao governo federal 60 milhões de doses da CoronaVac, que poderiam ser entregues no último trimestre de 2020. Contudo, não houve resposta por parte do Ministério da Saúde.
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Dimas Covas afirmou que, em dezembro de 2020, o Instituto Butantan já possuía 5,5 milhões de doses da CoronaVac estocadas e 4 milhões em produção. Nessa mesma época, só haviam sido vacinadas 4 milhões de pessoas em todo o mundo.
“O Brasil poderia ter sido o primeiro pais do mundo a iniciar a vacinação, se não fossem esses percalços, tanto de vista de contrato como de regulamentação”, relatou o diretor do Butantan.
Segundo Covas, houve ainda um pedido ao governo federal de apoio e recursos para o estudo clínico da vacina, produzida pelo laboratório chinês Sinovac, e o investimento de R$ 80 milhões para aumento da capacidade do instituto para a produção de vacinas. Ambos também não tiveram retorno.
O diretor afirmou que o protocolo de intenções para a venda de vacinas contra o coronavírus para o Ministério da Saúde foi assinado em 19 de outubro, mas ficou em “suspenso” por quase três meses – período que coincidiu com as falas do presidente Bolsonaro contra A CoronaVac e o governador João Doria.
Em seu depoimento na CPI no último dia 19 de maio, o ex-ministro Eduardo Pazuello Perguntado negou ter recebido ordens do presidente Bolsonaro para desfazer o acordo com o Butantan pela CoronaVac, mesmo após manifestações públicas contra o imunizante.
“Uma postagem na internet não é uma ordem. Ordem é algo direto, verbal ou por escrito. Nunca foi dada”, garantiu Pazuello à CPI.
O Butantan já entregou as primeiras 46 milhões de doses ao Ministério da Saúde e iniciou a entrega do novo lote, de 54 milhões de doses, previstas até setembro.
O diretor disse que declarações de autoridades brasileiras contra os chineses resultaram em dificuldades burocráticas para obter insumos. “Nós, que estamos na ponta, sentimos essa dificuldade, é impossível negar”.
Na opinião de Dimas Covas, a politização da vacina pelo governo federal atrasou a imunização de milhões de brasileiros e é uma das causas para que o País seja o segundo com mais mortes no mundo em consequência da Covid-19.